The Project Gutenberg EBook of O Claro Riso Medieval, by Jo�o de Lebre e Lima

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org


Title: O Claro Riso Medieval

Author: Jo�o de Lebre e Lima

Release Date: December 11, 2010 [EBook #34623]

Language: Portuguese

Character set encoding: ISO-8859-1

*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CLARO RISO MEDIEVAL ***




Produced by Mike Silva





 

 

JO�O DE LEBRE E LIMA


O claro riso
medieval

 

CONFERENCIA LIDA PELO AUTOR NO PRIMEIRO
SAL�O DOS HUMORISTAS E MODERNISTAS
REALISADO NA CIDADE DO PORTO 14-VI-915

 

 

 

 

LIVRARIA CHARDRON
DE LELO & IRM�O, EDITORES
PORTO-1916

 

 

 

 

{1}

Als ik kan

Sinal do pintor
Jehan de Eyck

 

 

 

 

{2}
{3}

O CLARO RISO MEDIEVAL

 

 

 

 

{4}

Do Aut�r:

O LIVRO DO SILENCIO seguido dos PO�MAS DO CORA��O E DA TERRA (1913)

A seguir:

DA P�NA DE MORTE

PALAVRAS... PALAVRAS

O TEAR DE PEN�LOPE

{5}

 

JO�O DE LEBRE E LIMA


O claro riso
medieval

 

CONFERENCIA LIDA PELO AUTOR NO PRIMEIRO
SAL�O DOS HUMORISTAS E MODERNISTAS
REALISADO NA CIDADE DO PORTO 14-VI-915

 

 

 

 

LIVRARIA CHARDRON
DE LELO & IRM�O, EDITORES
PORTO

{6}
{7}

 

AOS EXPOSITORES E CONFERENTES
DO
PRIMEIRO

SAL�O DOS HUMORISTAS
ORGANISADO NO PORTO.
HOMENAGEM DE
ADMIRA��O, RECONHECIMENTO E SIMPATIA
.

J. de L. e L.

 

 

 

 

{8}
{9}

Quand une chose me plaira, je ne pr�tends pas qu'elle te plaise, encore moins qu'elle plaise aux autres. Le ciel nous pr�serve des legislateurs en mati�re de beaut�, de plaisir et d'�motion! Ce que chacun sent lui est propre et particulier comme sa nature; ce que j'�prouverai d�pendra de ce que je suis.

TAINEVoyage en Italie.

{10}
{11}

 

 

 

 

MINHAS SENHORAS

MEUS SENHORES

 

Eu n�o sei de per�odo hist�rico que mais malsinado tenha sido, por quanto arengad�r comicieiro se tem lembrado de evocal-o, que esse que pelo nome d� de Meia-Idade, fecundo e generoso per�odo que a erudi��o moderna, ha uns lustros a esta data, com t�o desvelado carinho vem reabilitando, para m�r desesp�ro e ataranta��o dos que na �noite dos seculos�, �treva da Humanidade� e �aviltamento do esp�rito humano� encontraram{12} bord�es c�modos a que apoiar a sua indolencia intelectual e o seu arripiante desd�m pelos processos honestamente scient�ficos de faz�r ou espalhar a Hist�ria. E � com um regalo um tudo-nadinha perverso que eu esfrego as m�os a cada nova descoberta, visionando a desorienta��o sempre maior que vai por casa do Senhor Logar-Comum e de sua estimavel consorte, Mme. Frase-Feita.

Popularisada pelo esp�rito sectarista da Renascen�a, ainda conserva ra�ses teimosas no c�rebro contempor�neo a impress�o de que a Idade-M�dia mais n�o foi do que uma deprimente crise, em que tudo quanto de nobre existe no homem correu s�rio risco de naufr�gio.

Porque, ao alvorec�r do cristianismo, das landes e florestas brav�as, da Germ�nia, alguns milhares de teut�es, brutais e fortes, como vaga assoladora desc�ram{13} at� aos pa�ses que se abrigavam sob a asa, j� ent�o desplumada, da �guia romana e porque, esfacelado o Imp�rio que assombr�ra o mundo, essas rudes hordas batalhadoras durante alguns centos de anos rijamente se haviam disputado os pingues bocados da pr�sa, logo para o crit�rio racionalista, fact�cio, estreito, dos humanistas do Quattrocento os dez s�culos que precederam a ressurrei��o da cultura greco-latina se tornaram num grosseiro e despresivel ros�rio de ladroagens, devassid�es e carnificinas—assim como que uma jaula enorme em que um bando faminto de ursos se entredevorasse, enraivado e excitado pela sangueira.

Por outro lado, as preocupa��es doentias do au-del�, os terr�res do inferno e o papel capital que a Egreja desempenhou em todas as grandes crises da �poca,{14} criaram a lenda de que os tempos medievos haviam coalhado em todos os l�bios os sorrisos e as palavras de alegria, tornando o mundo num gelado claustro de convento, aonde ninguem se atrevia a falar alto, com m�do de perturbar o sussurro das litanias e dos Kyries.

O mundo era demasiado estreito para n�le cab�rem � vontade outras figuras que a do frade e a do cavaleiro n�o fossem. E como por traz do burel mon�stico se ocultava o mist�rio da Divindade, isto �, a incert�sa do al�m—que tanto podia s�r o para�so como as labar�das implacaveis do inferno—e a cota de malha dos guerreiros apenas prometia mortes, pestes, assola��es e fome, inferiu-se levianamente que, da queda de Roma � queda de Bis�ncio, a alegria se exil�ra duma terra que a n�o compreendia, t�o absorvidas andavam as almas pelo cuidado{15} da pr�pria salva��o e os corpos pelo terr�r da morte sempre presente.

A pr�pria catedral g�tica (que � o mais intenso himno de j�bilo que conhe�o) foi erradamente encarada como um simbolo de trist�sa, de dolorosa anciedade, de cobardia at�[1]!

Essa arquitectura de sonho, t�o fragil e amavel aos olhos como uma velha renda de Malines ao tacto, foi inventada, disse-se, para enternecer, para subornar manhosamente Jehovah, t�o r�spido e intransigente como nos tempos remotos do Exodo e do Pentateuco.

N�o se amava Deus, como n�o se amava o rico-homem feudal. Mas pagava-se o tributo a um e a outro para arredar calamidades da beira da porta.

Assim se figuraram a Idade-M�dia os contempor�neos de Louren�o de M�dicis:{16} aos p�s do lirio mistico de Dante Alighieri a acha de armas, pingando sangue, de Gilles de Rais—o Barba-Azul da legenda.

Assim tambem a imaginamos n�s ainda, os melanc�licos e scepticos contempor�neos de Mr. Anatole France e da politica parlamentar.

 

Certo, muito de exacto se pode topar no fundo deste conceito.

Efectivamente, ao desabrochar da era actual, o homem assistiu a um espect�culo de cat�strofes e horrores capaz de desconcertar a imagina��o do mais absurdo cread�r de films cinematogr�ficos ou do mais fantasioso metteur-en-sc�ne de grand-guignolescas tragedias. Durante c�rca de duzentos annos (que{17} tanto durou a invas�o ocidental dos b�rbaros, ou, na xaroposa denomina��o tudesca, a migra��o dos povos) um cicl�nico vento de agonia e desvairo sacudiu toda a Europa, de Bisancio—ultimo santu�rio do heleno-romanismo—�s praias fecundas do Atlantico.

O imperio dos cesares, perdida a virtude antiga dos seus homens e relaxado o culto severo do exclusivismo da civitas, arquejava s�b a nuvem de extrangeiros, que, espont�nea ou for�adamente, acorriam a Roma de todos os cantos do mundo, e morria, asfixiado, de bei�os colados sofregamente aos seios morenos e lascivos das escravas asi�ticas e �s gargantas firmes e frias das loiras mulheres do Norte—que tinham grandes pupilas az�es de crean�a e provocantes receios de gazela, que os halalis de ca�a desorientam.{18}

Os membrudos legion�rios, que desbarataram as coortes de Anibal e sob todos os s�es haviam passeado a �guia de oiro da Roma Victrix, j� n�o podiam com o rijo casco dos tempos her�icos e usavam agora um chap�o leve e nem coura�a traziam. Dos campos desertava a popula��o rural, que para as cidades enveredava, sequiosa de partilhar as in�ditas vol�pias dos triclinios em festa. E j� n�o era s�mente ao claro Apolo e a Venus Anady�mene que Roma erguia altares votivos e sacrificava as r�ses e os fructos do ritual lit�rgico, mas a quantas misteriosas e tenebrosas divindades esqu�lidos profetas lhe traziam dos confins dum Oriente rutilante e exasperado e hirsutos druidas, cobertos de alvas t�nicas de linho, importavam das florestas sombrias e metafisicas da G�lia.

Foi ent�o que os B�rbaros apetec�ram{19} a cortesan romana, que, nos �trios de m�rmore e s�b o olhar vasio das estatuas, uivava de lux�ria monstruosa, entre cacos de ta�as estilha�adas e sob um chuveiro continuo, embriagante, exaustivo, de p�talas de rosa.

E a epopeia do Fim principiou...

De norte a sul e de oriente a ocidente, um fr�mito de terr�r galvanisou a carne entorpecida do heroi, que ia morrer—que inexoravelmente ia morrer.

Num derradeiro lampejo de coragem, dessa coragem sublimada e excelsa que lhe d�ra mundos e a sua quadriga de triunfo acorrentara cem ra�as, �le ergueu-se, ent�o, cambaleante, meio tonto da ultima bacanal, e, sacando do pesado gladio de R�mulo e Remo, tentou ainda uma desesperada resistencia � investida dos que lhe cobi�avam as pedrarias das arcas e a carne voluptuosa e d�ce das mulheres requintadissimas.{20}

Mas, ai! aos m�sculos do seu bra�o n�o acudiu o vigor de outros tempos—e dos seus dedos afusados, femininos, cobertos de joias, o gladio das victorias desprendeu-se e, ao bater no mosaico do ch�o, partiu-se em mil bocados, com um ruido sinistro de bronze que se lamenta...

E os B�rbaros entraram.

 

E os B�rbaros entraram, de rold�o, como um sirocco de inferno, talando campos, incendiando cidades, semeando a morte e o horror por onde passavam. � sua aproxima��o burgos inteiros se despejavam de habitantes e as legi�es, que o desuso da guerra amolent�ra, fugiam tambem, mordidas de terr�r p�nico.

Foi um �xodo tr�gico, que nenhum Rochegrosse poder� ressuscitar!{21}

Sobre as terras do Imp�rio agonisante a morte desdobr�ra as azas r�gidas e o Imp�rio acabava, afogado em trist�sa pela brutal profana��o...

Mas, mais alto ainda que o desesp�ro estridente das mulheres e o clamor ululante dos vencidos, subia a gargalhada satisfeita, a imensa gargalhada das hordas victoriosas. Riso de embriagu�s, riso de insania, que importa? era um riso que fazia estremecer a terra inteira e sob a ab�bada do c�o �coava como um himno triunfal!

 

Depois...

A Historia aqui balbucia.

Pouco a pouco a tempestade amainou. Das in�meras tribus, lan�adas como irresistiveis arietes contra a muralha latina, umas, levadas pela vertigem de epopeia{22} que os seus chu�os de guerra andavam escrevendo, desabaram caudalosamente s�bre a Iberia e, atravessando o mar, f�ram perder-se nas areias de Africa, como regatinhos m�seros, que o deserto facilmente engole; outras—a maioria—menos ambiciosas, ou mais extenuadas de tanto pelejar, cravaram no ch�o as suas tendas de pele de cabra e a primeira noite dormida em s�lo romano foi a primeira de uma Historia nova, de um mundo novo.

Para traz de elas e ao seu redor nada restava da luminosa sociedade que sabia de c�r hex�metros de Horacio e com Petronio aprend�ra a arte subtil de enrugar uma toga. Palacios, termas, sumptuosos p�rticos e at� humildes cabanas de tijolo jaziam por terra, desfeitas em cinzas, que fumegavam ainda. E as estatuas mutiladas pela primeira vez sentiram{23} aflorar aos seus olhos de marmore, divinamente impassiveis, uma lagrima de humana piedade...

A Bel�sa antiga morr�ra!

Debalde os invasores, num supersticioso temor de parvenus selvagens, tentaram ressuscital-a e com ela o mecanismo complicado e sabio da administra��o romana.

�Come�ou-se a restaura��o dos aqueductos, banhos e teatros; chegou-se mesmo a edificar monumentos novos, como o palacio de Verona e a basilica de Rav�na. Os espectaculos recome�aram, reabriram as escolas de ret�rica. Mas os Godos n�o toleraram por muito tempo similhante regimen. Ap�s a morte de Teodorico, como a rainha Amalasonte tivesse confiado a educa��o do filho a preceptores romanos, os principais guerreiros exigiram-lhe que a crean�a{24} fosse educada com os seus camaradas, para com �les aprender a ca�a e o manejo das armas, conforme era de uso entre b�rbaros[2]�.

Este epis�dio melhor que nenhum outro revela a fisionomia moral da Idade M�dia dos primeiros s�culos.

O vinho novo n�o se acomodava nos �dres velhos. O pesado estatismo latino embara�ava, sufocava os movimentos de aqueles homens que traziam, de longe, um zeloso culto pela dignidade e liberdade do individuo.

Tudo, na civilisa��o que o Lacio cultivara ao longo das duas Europas, meridional e central, se opunha e resistia � absorp��o. Roma era um estado enorme, disciplinado, culto e homog�neo, a despeito{25} da infinidade de povos diferentes que pela sua Lei se regiam. As suas condi��es de estabilidade e a manifesta superioridade do seu talento governativo davam-lhe um prestigio t�o grande que muitos b�rbaros, como os francos, burgondos e wisigodos, n�o hesitavam em desertar em massa as suas terras, para se colocarem sob a protec��o do c�sar, que nove decimas partes da popula��o do imperio nunca vira e, talvez por isso mesmo, temia e respeitava como a um deus.

Outras e muito diversas eram as condi��es da sociedade que para l� do Reno e do Danubio ficava. O territorio da Alemanha actual encontrava-se parcelado, dividido por um sem-n�mero de tr�bus, que se n�o estimavam entre si e que, quando n�o guerreavam o Imp�rio, matavam o tempo batalhando umas com{26} as outras. Chefe supremo que coordenasse todas aquelas energias dispersas n�o havia. Quando muito suportavam, momentaneamente, qualquer condottiere, que a fortuna das armas em certo minuto bafejara e cujo prestigio findava com o primeiro rev�s ou com a morte, n�o chegando a criar tradi��o.

Este permanente estado de briga impedia o desenvolvimento de uma superior cultura do espirito, permitindo unicamente as profiss�es que podemos alcunhar de instinctivas: a pastoricia, a agricultura e a guerra. S� esta ultima seria capaz de fixar unidade, se f�sse servida por um plano politico nitidamente estabelecido, como sucedeu com a conquista romana. Ora esse plano n�o existia. A guerra entre os Germanos, porque era motivada por impulsos passionais e sofreguid�o de pilhagem, apenas{27} logrou robustecer a barbarie e fomentar a dissocia��o.

Ra�a juvenil, fremente de ac��o e de paix�es violentas, afei�oando o ar livre e os scenarios naturais, que melhor falavam � espontaneidade do seu instincto, n�o podia intender as serenas discuss�es do Forum, entre alabastros pl�cidos e inertes. Para estes homens, que dormiam a cavalo e amavam com a simplesa de animais magnificos, s� o que a vida lhes revelava directamente seduzia as suas irraciocinadas preferencias.

Quando se assembleiavam, escolhiam um recanto ao acaso sob a copa de um carvalho tutelar. E, ahi, sentados em calh�us asperos, ouvindo o gorgolejar das fontes e o balir dos rebanhos, tumultuosamente deliberavam s�bre uma guerra a fazer ou um crime a julgar.

Al�m da natural distinc��o entre fortes{28} e fracos n�o havia outras hierarquias. Quem n�o podia brandir a massa de armas, que laborasse a terra. Os guerreiros eram os pares do seu chefe. Cada tribu formava um estado e todos se conheciam dentro de cada tribu.

Era o ensaio fruste da comuna medieval futura e das modernas democracracias.

 

Deste conflicto se entretece a historia dos primeiros s�culos de barbarie, ap�s a queda do Baixo-Imperio.

Se meu intuito f�ra massacrar abusivamente a ben�vola aten��o de Vossas Excel�ncias, eu poderia ainda—sem modestia e sem custo—longamente dissertar s�bre o assunto. Mas, porque ele vos � familiar e eu care�o absolutamente de abreviar-vos, tanto quanto possivel, a{29} fastidiosa obriga��o de me escutardes, deixarei em paz este confuso e tumultuado desenrolar de guerras, brutalidades e cat�strofes de toda a sorte—tenebrosa retorta de alquimista maluco em que o mundo de agora j� se sente obscuramente fermentar.

N�o o abandonarei, comtudo, sem primeiro ter salientado a minha persuas�o de que o riso n�o se sumiu da face da terra, mesmo neste catacl�smico per�odo em que horrorosas pestes aniquilavam provincias inteiras e por cada espa�o de setenta anos havia quarenta de fome e se chegara a com�r carne humana.

Riso brutal, decerto, gargalhar selvagem de mandibulas desconjunctadas, riso que faria desmaiar de espanto e de terr�r as preciosas do palacio Rambouillet e as marquesinhas liricas do Trianon—mas{30} riso verdadeiro, espont�neo, irreprimivel, riso de crean�as e de her�es, riso sem adjectivos nem parti-pris, riso simplesmente e nuamente riso!

 

Eis, por�m, que o ano mil se avisinha.

Por toda a cristandade supersticiosa v�a celeremente a cren�a de que o mundo vai acabar e todas as b�cas se contracturam num rictus de agonia, que enlividece e espectralisa as m�scaras.

Inutilmente alguns doutores da Igreja procuram destruir o credo absurdo. Ninguem os ouve, ninguem acredita neles. O sortil�gio do n�mero embruxa todos os c�rebros e o cont�gio do m�do acaba por ganhar aqueles mesmo que a principio descriam.

Ent�o viu-se esta coisa de trag�dia{31} esquiliana: multid�es rouquejando de afli��o aos p�s dos frades l�vidos, dementadas prociss�es de fan�ticos azorragando-se at� ao sangue, corais sinistras de miseraveis erguendo para o c�o parado m�os s�plices e crispadas, como, por certo crep�sculo da H�lade, as m�os convulsas das carpideiras, aos gritos junto de Patroclo morto...

Ah! que supremo Artista, que semi-deus d'Annunzio cantar� a angustia dessa noite de epopeia!

 

Senhoras e Senhores, perdoai a quem, tendo-se proposto ocupar-vos do riso na Meia-Idade mais n�o f�z ainda que passar-vos ante os olhos quintos-actos de dramalh�o hist�rico. � que, para a minha sensibilidade e para o meu esp�rito, esta profunda crise da velha civilisa��o{32} ocidental tem captivancias de c�r, sorcelleries de mist�rio, de vida intensa e magn�fica, que em nenhuma outra encontro e que nenhumas palavras sabem dar. Ras�o por que...

Eu procurarei, no emtanto, absolv�r-me do venial pecado.

Ia dizendo que, ao aproximar do ano 1000, entre os crist�os se espalhara a cren�a de que o mundo ia acabar e que o terr�r do Fim exil�ra das b�cas p�lidas o riso claro e son�ro de outras eras.

Breve, por�m, se desfez o cauchemar�sco bruxedo. Ao clarear da primeira madrugada do s�culo XI, o homem, que—como escreve certo historiador de arte[3]—se deit�ra para morrer, ergueu-se do seu catre, at�nito e deslumbrado, e a cristandade toda respirou fundo, desopressa da l�gubre amea�a.{33}

Era o remoto milagre de L�zaro redivivo que em plena Meia-Idade se repetia.

Ent�o foi pelo mundo adiante uma alegria desordenada, febril, quase dolorosa, como o casquinar das hist�ricas em face dum perigo que inesperadamente se desfaz. Libertas do cruciante pesadelo, as almas, reconhecidas, volveram-se para Deus, para esse Deus de misericordia e de piedade que conjur�ra a apocal�ptica amea�a. E as b�cas, que ainda hontem solu�avam requiems de desesp�ro, abriram-se num te-Deum imenso, que iluminava a terra como um sol de gloria e para o c�o subia como o perfume de um roseiral sem limites.

A estas rudes creaturas, por�m, n�o bastava o platonismo da ora��o. O seu ing�nuo e sincero reconhecimento anceiava por encontrar uma forma de exteriorisar-se mais duradoira e efectiva que a{34} das palavras, que logo morrem mal nascem.

E encontraram a igreja rom�nica.

Durante muito tempo o deus dos crist�os n�o tivera santu�rio pr�prio. O credo galileu, mesmo depois de perfilhado pelo Imperio, era pr�gado em casa de pag�os. E quando os recem-convertidos, no z�lo da sua f�, pretenderam repudiar os templos, que a idolatria dos antepassados para sempre havia maculado, e em seus esp�ritos nasceu o desejo de ergu�r � Divindade nova um altar novo, foi ainda � bas�lica dos romanos que �les f�ram pedir o plano arquitectonico de que tanto careciam[4].

Logo, por�m, que as invas�es cessaram e uma paz relativa trouxe um pouco de soc�go ao velho mundo boulevers�, come�ou-se a notar que o recinto escolhido{35} n�o satisfazia as exigencias de sensibilidade que o Verbo nazar�no acord�ra em todas as almas.

Aquela grande sala nua, rectangular, mon�tona, de tecto horisontal e escassamente alumiada, em nada correspondia, ou antes, nada traduzia da aspira��o ardente dos crist�os. Contra as pesadas traves de aquele tecto raso, baixo, opressivo, as azas brancas da ora��o esbarravam e, ensanguentadas, tombavam s�bre o lag�do da nave, como pombas alv�ssimas feridas.

A par desta objec��o de ordem estetico-sentimental, outra, de natur�sa puramente material, mas n�o menos importante, havia a considerar: � que tal processo de construir oferecia inconvenientes serios, dos quais o menor certamente n�o era a cobertura dos templos, feita, em geral, com enormes pedras horisontais,{36} dificeis de obt�r, de trabalhar e de colocar. Para iludir este grave embara�o v�rias vezes se tentou substituir o granito por compridos pranch�es de madeira. Mas a inova��o fracassou, pois as inclemencias do tempo e os incendios muito frequentes em breve demonstraram a fragilidade do subterf�gio.

Foi ent�o que o sistema das construc��es abobadadas se apresentou ao espirito de n�o se sabe que obscuro arquitecto de g�nio, que, um dia, talvez em frente de uma arcada romana, as imaginou.

�Esta inova��o acarretava uma s�rie de modifica��es. Contrafortes exteriores, mas ainda pouco salientes, encostaram-se �s par�des, exactamente nos pontos sobre os quais a ab�bada fazia maior press�o. Pilares macissos, com columnas encravadas em cada uma das quatro faces, alternaram com columnas isoladas. Rasgaram-se{37} as janelas em cintro e, quando eram geminadas, uma claraboia as sobrepujava[5]�.

Interiormente, a longa nave da basilica romana foi cortada, a dois ter�os do seu comprimento, por uma nave perpendicular, de menores dimens�es, de sorte que o edificio ficou com a forma de uma cruz latina. Exteriormente, al�m das modifica��es j� apontadas, outra se verifica, muito importante: o aparecimento do campanario ou campanarios, torre�es macissos, aderentes ao corpo da igreja e servindo n�o s� para instalar os sinos como tambem para vigiar os terrenos em volta, precau��o natural�ssima n'aqueles tempos de guerrilhas quotidianas.

�Quanto � decora��o, n�o se f�z caso algum da simetria romana. A forma e a ornamenta��o dos capiteis f�ram{38} completamente abandonadas � fantasia dos esculpt�res. Ha igrejas rom�nicas em que n�o � possivel encontrar dois capiteis similhantes[6].

Reparem agora Vossas Excelencias nesta gravura. � um croquis da linda igreja de Poitiers, N�tre-Dame-la-Grande, um dos mais belos monumentos religiosos da �poca que estamos analisando[7].

Frequente � encontrar nas historias de arte a afirma��o de que esta arquitectura � triste, pesada, conventual, acompanhada da inevitavel explica��o de que s�mente � torturada, � sombria fisionomia{39} moral da Idade-M�dia se p�de e deve atribuir a fei��o particular de similhante arte. � nesta altura que � de uso sacar dos tropos retumbantes, a que j� tive ocasi�o de aludir nos umbrais de esta palestra, e dar cabo da pobre Idade-M�dia, carregando-a de nomes feios, mutilando-a ferinamente, enxovalhando-a e humilhando-a sem piedade.

Eu pe�o v�nia para n�o juntar a minha debil voz ao c�ro dos apostrofad�res, sem que a minha ren�ncia, comtudo, signifique preten��o de afirmar que a �les n�o assiste o mais fugidio vislumbre de raz�o. Sim, a arquitectura rom�nica, � primeira vista, � melancolica, soturna. Estas grandes paredes nuas e cegas, de uma espessura esmagadora, s�o rebarbativas, duras, quasi host�s. O interior da igreja tambem n�o nos disp�e melhor: a luz � coada por frestas{40} tuberculosas, abertas aqui e acol�, medrosamente, na mole compacta de granito. Sufoca-se l� dentro com tanta penumbra e tanta frialdade. Dir-se-hia que de aquelas pedras, de aquelas enormes pedras de castelo medievo, eternamente escorre um suor frio de terror.

Ter�o raz�o, portanto, os que no templo do s�culo XI se obstinam em encontrar a mais fiel traduc��o do esp�rito supersticioso, coalhado de angustias e pavores, que � para �les, o esp�rito do nosso antepassado feudal?

Todas as ideias, por mais absurdas, s�o defensaveis—e esta �-o mais que nenhuma. Todavia, parece-me que ainda aqui se toma um pouco a nuvem por Juno...

O ano 1000 pass�ra e, com �le, um dos maiores p�nicos da cristandade. Como � possivel que fossem tristes os homens{41} que ergueram tais edificios, se esses homens como que haviam renascido uma segunda v�z?

As pr�prias condi��es hist�ricas da sociedade, que produziu a arte que estudamos neste momento, parecem auxiliar a minha conjectura. O mundo feudal ganh�ra uma certa estabilidade. As exac��es e violencias dos bar�es eram menos frequentes, porque o aparecimento das cruzadas afast�ra da Europa um grande n�mero de esses senhores brig�es e aventureiros. O camponez principiava a respirar. O fructo do seu penosissimo lab�r j� lhe n�o era, como em tempos idos, insolentemente surripiado pelos v�licos do castelo. O direito era ainda a for�a, mas os costumes ganhavam cada v�z mais prestigio e o trabalho dos glossad�res come�ava a s�r encarado como uma tarefa util e necess�ria. Com{42} a paz veio um esbo�o de prosperidade e o oiro afluiu ao velho continente, arruinado e miseravel. O homem n�o era ainda feliz, decerto. Mas que diferen�a entre o passado pr�ximo e aquele presente, escancarado para um futuro de que havia tudo a esperar e nada a tem�r, por as almas e os corpos estarem ha muito coura�ados para todas as miserias!

Examinai de perto, agora, uma igreja de esta �poca. Vereis qu�o facilmente se dissolve a vossa primeira impress�o, ante as surpr�sas que vos reserva um exame mediocremente atento!

Ars�ne Alexandre, o historiad�r amavel da caricatura, afirma algures que os constructores do templo medieval quizeram �aterrar por meio das grandes linhas, alegrar e distrair pelo detalhe.�[8]

Eu n�o saberia dizer-vos melhor nem{43} mais completamente a minha ideia.

Com efeito, a igreja rom�nica � pesada, austera, no seu conjuncto arquitectural—jocosa e sat�rica, frequentes vezes, em sua decora��o.

Como interpretar esta contradic��o?

Creio que facilmente, desde que saibamos que aos frades da �poca se deve o plano da referida igreja. Os monges eram, ao tempo, os unicos homens cultos da Europa meridional, que foi aonde a arte rom�nica nasceu e produziu os seus mais belos fructos. Refugiados nos mosteiros da montanha ou perdidos na solid�o das florestas despovoadas, �les entregavam-se, nos intervalos dos oficios sacros, � piedosa tarefa de recolher os fragamentos da velha n�u latina desmantelada, pondo, na lide ingrata, aquela amorosa e inabalavel tenacidade que mais tarde possuir� os tres precursores da{44} renascen�a medic�nica: Dante, Petrarca e Boc�cio. Que admira, pois, que, ao planearem a nova casa de Deus, �les se deixassem inconscientemente influenciar pela arte dos pag�os, cuja nobre simplicidade de algum modo era afim do austero evangelismo de ent�o?

Uma for�a tenaz e obscura, por�m, se opunha � realisa��o integral da concep��o benedictina, erudita e grave: a imagina��o popular. Mais puros de sugest�es alheias, ignorando por completo a arte antiga e a teologia contempor�nea, os pedreiros humildes, a quem a tarefa coub�ra de erguer o templo, desforravam-se da contrainte monacal, dando largas � sua fantasia exuberante e um pouco desordenada, quando chamados a decorar os nichos, t�mpanos, capiteis, portais.

Tudo quanto os interessava, todas as ideias que os preocupavam, uma diabrura{45} que os fiz�ra rir ou um vicio que pretendiam stigmatisar, tudo nessas pedras ficou modelado pelo cinzel ainda ing�nuo e balbuciante, mas j� irreverente e malicioso, dos mestres canteiros da �poca.

� certo que, por vezes, no meio de essas lavranterias do granito, uma cabe�a monstruosa surge, relembrando antigos pavores. Simples capricho de esculpt�r-contista, historiando o inferno � mingua de outro assumpto. O diabo era ainda temido, sem duvida, mas ao respeito de outrora come�ava a misturar-se n�o sei que vago halito de mordacidade jovial, que singularmente o apoucava...

Depois, por aquele principio que os psic�logos baptisaram de �lei do esquecimento activo�—o qual nos ensina que a memoria do homem tem repugnancia pelas recorda��es dolorosas e se esfor�a{46} por libertar-se de elas—, n�o me parece muito atrevida a afirma��o que venho fazendo. Sobre aquelas almas primitivas a lembran�a da recente agonia pairava ainda sinistramente. Que �, pois, de admirar que eles, libertos do perigo buscassem atordoar-se, por um natural instincto de reac��o, entregando-se francamente a uma alegria, que n�o souberam exprimir?

E �, talvez, porque n�o souberam exprimir-se porque n�o tiveram a ajuda-los um tecnica perfeita, que, ainda hoje, muitos afirmam, iludidos pelas aparencias, que a esculptura decorativa da igreja rom�nica, � na maioria dos casos, recatada, austera e cheia de melindrosos pudores—quando a verdade � que ela n�o passa de um riso que foi mal rido.{47}

 

Esta inconsciente revolta da imagina��o espont�nea e caprichosa dos artistas contra o dogmatismo �rido de uma reduzida �lite de eruditos foi lentamente preparando as almas e os olhos para o milagre ogival.

A Europa, mesmo durante as invas�es, nunca deix�ra de estar em contacto com o Oriente. Com o advento das cruzadas as rela��es estreitam-se entre os dois continentes. Os b�rbaros guerreiros, que do velho mundo abalavam � ca�a do infiel, voltavam de l� maravilhados com o explend�r de uma civilisa��o que n�o intendiam, mas que os perturbava como o perfume de uma fl�r de estufa. E, nas desabridas noites de invernia, entre as paredes fuliginosas dos donjons, ouvindo crepitar os grossos t�ros de carvalho na lareira, tudo{48} era arregalar os olhos deslumbrados para o rude homem de armas, que falava de �sses pa�ses long�nquos como de um para�so inegualavel, em que tudo fossem precios�ssimos brocados, joias scintilantes e pal�cios de mil c�res, irreais como filigranas de cib�rios!

Das altas salas do castelo a maravilhosa legenda descia at� ao povo, trazida pela b�ca de algum menestrel tagarela, que a recontava, prodigalisando tintas.

E sempre no auditorio havia um artista que a escutava, embebido, e se ficava sonhando, mesmo depois da historia conclu�da e a multid�o dispersa...

 

Por uma gradual evolu��o, que n�o vem a p�lo detalhar, o g�tico, filho esp�rio do rom�nico, aparta-se de �ste{49} e, ahi por fins do s�culo XII, adquire f�ros de arquitectura original. O plenocintro, acanhado, frio, inc�modo como uma grilheta, cede o logar � ogiva esbeltissima, que se ergue para o c�o com a mesma gra�a alada de duas m�os que resam e o mesmo indefinido anceio de liberdade que faz estremecer de entusiasmo as lan�as compridas das comunas, luctando pela sua independencia politico-econ�mica.

A insurrei��o lavra por toda a parte e em todos os campos. J� de ha muito o homem se rebel�ra contra a secura doutrinal dos te�logos, que pr�gavam o horr�r pela carne e s� das almas curavam, minando-as de terror e desesperan�a[9]. �O crist�o Abeillard nega o{50} pecado original, reabilita a dignidade dos sentidos e procura estabelecer, pelo estudo imparcial da filosofia antiga e da doutrina dos Padres, a unidade do espirito humano, desde a antiguidade at� � Idade-Media. Quatro anos depois da sua morte, Arnaldo de Brescia, seu discipulo, proclama a republica em Roma[10]�.

Entre a creatura e o Cread�r de novo se intromete a vida natural, terrena, human�ssima, que, em vez de ser um contacto de infamia e damna��o, se torna no mais comovido meio de comunicar com Deus.

Certa manhan de chuva torrencial, Joaquim de Flora, numa qualquer humilde capela de aldeia, pr�gava sobre o pecado. S�bito, a borrasca serena e um raio de sol penetra alegremente na igreja,{51} vestindo de oiro os ombros vergados dos ouvintes. Comovido, o bom do frade cala-se um instante e fica a olhar, extasiadamente, a nesga de luz... Mas logo recobra os sentidos e, entoando o Veni-Creator, s�i com a multid�o para o campo, a saudar o grande sol amigo[11]! Cem anos mais tarde, � hora da sua morte, o maravilhoso pobresinho de Assis havia de renegar o ascetismo, pedindo perd�o ao irm�o corpo de o haver maltratado tanto. E, com o derradeiro suspiro, dos seus l�bios exangues voariam para o c�o os versos imortais do �Cantico ao Sol�:

Laudato sia, Dio mio signore,
con tutte le tue creature![12]{52}

A insurrei��o contra os moldes asfixiantes do Passado invade todos os campos, desperta em todos os cora��es o anceio do libertamento. Interpretes inconscientes do sonho comum, os trovad�res levam, de terra em terra, com o embalo das liricas de am�r e o vinho acre e forte das can��es de gesta, o seu reportorio sempre aclamado de fabliaux{53} mordazes e sirventes implacaveis[13].

Por toda a parte um ritmo surdo, mas grandioso e indomavel, anima a vida colectiva, conjugando energias dispersas, elaborando o s�nho de deslumbramento que nas catedrais g�ticas se perpetuar�. Muito fraco ainda para derrubar o bar�o feudal, o vil�o procura neutralisar um poderio que o insurge, vinculando-se fortemente � comuna, isto �, � confraria dos seus pares. Assim{54} fortalecido o seu esfor�o individual pela coordena��o de mil esfor�os, sedentos de liberdade, �le poder� orgulhosamente solicitar do senhor os forais que o deixar�o trabalhar em paz e ergu�r, mesmo em face do castelo da senhoria, o seu beffroi, t�o rendilhado e opulento como um templo ogival.

Para estas almas, cachoantes de revolta, um pod�r ha, comtudo, que lhes n�o p�sa, nem excita �dios: o poder de Deus. � tambem o �nico que aceitam sem murm�rio—mais, � o �nico que amam. E amam-no com um ardor tanto maior quanto mais funda � a miseria em que se debatem. Porque, para elas, amar a Deus � ainda de algum modo robustecer a febre de insurrei��o que as abrasa, pois � tomar contacto com um al�m radioso em que n�o ha cavaleiros arrogantes nem servos espesinhados,{55} aben�oado mundo em que todos s�o iguais e se n�o odeiam, jardim de maravilha eternamente florido por onde nunca passaram fomes, nem pestes, nem guerras incruentas.

Ent�o as almas voltam-se para a casa de Deus na terra, para a igreja acolhedora e apasiguadora, na anciosa esperan�a de ahi viv�rem mais plenamente o sonho de universal fraternidade que as devora.

Em breve a estreita nave rom�nica se torna insuficiente para cont�r a multid�o, que ao assalto da felicidade confiada e alegremente avan�a.

A mar� sobe, engrossa, faz press�o contra as muralhas do velho templo, cujas pedras v�o ced�r ante a irresistivel for�a de expans�o da vaga rumorosa e formidavel. E quando, por fim, as broncas paredes desabam e s�bre a terra alastra o entusiasmo novo, das �guas vivas da inunda��o emerge, feminina, irreal, lev�ssima, a catedral{56} nova, como um lirio de milagre abrindo ao sol as suas p�talas de m�rmore!

 

Johannes Joergenson, o nobilissimo poeta dinamarqu�s, cuja recente convers�o ao catolicismo fez de �le o mais enternecido dos historiadores de S. Francisco de Assis, conta, no seu �Le Livre de la Route�, o seguinte delicado epis�dio.

Um dia, certo anonimo pesquisador de belas coisas, encontrando-se de passagem em n�o me recorda que medievesco burgo do Norte, lembrou-se de visitar-lhe a catedral—notavel reliquia de arte g�tica, ao que parece.

Depois de a hav�r miudamente esquadrinhado, quiz rematar o seu exame por uma ascen��o ao mais elevado ponto da flecha, t�o afusada e alta que os maiores edificios da cidade pareciam de joelhos aos{57} p�s de ela. Ora sucedeu que, ao chegar l� acima, �quela imensa altura, o nosso curioso visitante inesperadamente esbarrou com um velho canteiro de longas barbas de prata, que, de cinzel e de martelo em punho, minuciosamente abria, num peda�o de granito desornado, um sem-n�mero de minusculas fl�res e outros motivos frageis...

Um instante interdicto, o turista acabou por interpelal-o, com um sorriso de piedosa ironia:

—Eh! meu amigo, esse trabalho bem inutil me parece! Pois para que servir�o tantos cuidados, se, l� de baixo, ninguem, absolutamente ninguem, poder� v�r e admirar a sua obra?!

Ent�o, o pedreiro, volvendo para o indiscreto uns olhos pl�cidos e ingenuos, retorquiu brevemente:

—E que n�o vejam?! Deus v�—�{58} quanto basta.

E, de novo, o cinzel cantou s�bre o granito frio...

� medida que o meu estudo mais intimamente me relaciona com a Meia-Idade, mais no meu esp�rito se radica a impress�o de que pela b�ca d�ste velho obscuro lucidamente falam alguns s�culos de Historia—qui�� os mais intensos, sen�o os mais belos, de quantos o homem at� ao presente viveu.

�Deus v�!�

Pois n�o � verdade que nesta frase r�pida, de uma singel�sa e de uma precis�o de legenda latina, n�stes dois monosilabos breves, que facilmente cabem num h�lito de crean�a, toda a Idade-M�dia se resume e como se justifica amplamente?

�Deus v�!�

Sim, Deus v�. E porque Deus v�,{59} e para que Deus veja, � que os homens esventram montanhas e lhes roubam os m�rmores sem pre�o, v�o ao fundo da terra cavar os finos metais e as pedras rutilantes, jogam a vida s�bre os mares trai�oeiros em demanda dos brocados e s�das nunca vistas—e de todos �sses tesoiros confusamente amontoados arrancam, por fim, a mais audaciosa e deslumbrante maravilha do humano engenho: o templo g�tico!

Sim, � porque Deus v� que os Van Eyck p�em todo o seu g�nio enorme no ret�bulo de Gand e Memling toda a sua indizivel candura nas telas do Hospital de Bruges; � porque Deus v� que Jehan Pucele, Pol de Limbourg, Jehan Fouquet e outros gastam uma vida inteira iluminando insonhaveis, preciosissimos missais, livros de Horas e psalterios; � porque Deus v� que Fra{60} Angelico, o divino, ergue as m�os em r�sa antes de come�ar o seu lab�r e nunca altera o que pintou, �porque foi Ele quem guiou o seu pincel�; � porque Deus v� que um formigueiro de arquitectos e ma��os levanta as catedrais de Amiens, Reims, Paris, Chartres, Bruxelas, Lincoln, Colonia, Strasburgo, e pintores as decoram, e esculptores as vestem de milhares de est�tuas[14], e marceneiros as enriquecem com madeiras prodigiosamente lavradas, e vitralistas-poetas, perdul�rios de sonho e de emo��o, lhes encastoam nas esguias ventanas ogivadas todos os milagres da Legenda Sanctorum feitos linha e c�res inimitaveis. E � ainda porque Deus v� que a quasi totalidade dos artistas d�sses{61} fecundos e gloriosos s�culos de cren�a, de esperan�a, de legitimas revoltas, deixa por assignar as obras que das m�os palpitantes lhes saem! Para qu� assignal-as?! Assoldadados embora, �les trabalham com elevado ard�r, menos para agradar ao principe que os remunera, que ao Senhor que os v�. Os homens poder�o esquecer-lhes os servi�os e at� os nomes; Deus � que sempre os recordar�, pois por am�r de Ele labutaram.

A arquitectura religiosa da Baixa Meia-Idade � a crea��o suprema d�stes an�nimos Homeros. Todos �les, possuidos de uma f� igual, trazem � obra comum o melhor do seu esfor�o: os artistas a sua arte, os s�bios a sua sciencia, os rudes o seu bra�o e at� os mendigos o seu �bolo. �Gra�as a �stes admiraveis trabalhadores, a catedral � um s�r vivo, uma �rvore gigantesca{62} cheia de aves e flores. Mais parece uma obra da natureza que dos homens... A igreja � a casa de todos, a arte traduz o pensamento de todos... A catedral pode substituir n�o importa que livros. S� a Fran�a soube fazer da catedral uma imagem do mundo, um resumo da hist�ria, um espelho da vida moral[15]�.

Nunca o preceito d'anunziano: �crear com alegria� foi t�o escrupulosamente observado como n�ste periodo. De aquelas pedras, amorosamente acasteladas at� ao c�o, num t�o vertiginoso impeto que chega a causar arripios, irradia uma tal satisfa��o, um tal contentamento, que eu n�o sei de alma bronca que, em frente de elas, n�o entreadivinhe, um instante, as delicias da Terra Prometida!

Do sombrio templo rom�nico j� nada{63} ou pouca resta. O hieratismo e o convencionalismo decorativos do anterior periodo cedem o passo ao franco naturalismo do periodo que come�a. Os grandes panos de muralha cega e quasi nua vestem-se, de alto a baixo, de prodigiosos lavores e surgem-nos agora t�o recortados de altissimas janelas, enormes ros�ceas e frestas sem conto que a gente chega a ter a impress�o de que a catedral est� suspensa no ar!

Deixai o grande Taine dizer que o interior do edificio � l�gubre e frio[16] e escutai-o antes quando ele vos descrever, na sua prosa sumptuosissima, t�o luminosa e forte como um alabastro da Acropole, as catedrais de Assis e de Mil�o.[17]

N�o, meus senhores, a arte ogival n�o odiou a luz, antes a f�z a sua mais{64} assidua colaborad�ra e at� por am�r de ela se perdeu. �A arquitectura g�tica repudiou a obscuridade... Quando a catedral � obscura � porque o mestre de obras calculou mal o seu esfor�o, quiz obrigal-a a dar mais do que ela podia, ou pretendeu acumular nos seus flancos multid�es s�bre multid�es, como em Paris, aonde as quatro naves laterais aparecem esmagadas por galerias in�meras. Se vestem as largas aberturas de vitrais, n�o � para entenebrecer a nave, mas para glorificar a luz...... ....... O vitral oferecia a sua matriz inflamada aos dias p�lidos do Norte, para que o afago de �stes fosse mais quente � pedra que de todos os lados subia. Os seus azues liquidos, os seus azues carregados, os seus amarelos de a�afr�o e de oiro, os seus alaranjados, os seus vermelhos vinosos ou p�rpureos,{65} os seus verdes densos, arrastavam ao longo da nave o sangue de Cristo e a safira celeste, o rubro das folhas de vinha que o outono crestou, a esmeralda dos longinquos oceanos e dos prados de em redor. Em verdade �le apenas atenuava as suas rutilantes policromias no fundo das capelas absidiais, aonde a mancha dos cirios fazia tremular a noite. Era um pretexto para acumular � roda do santuario a imprecis�o angustiosa e a vol�pia do misterio. Mas desde que o c�o se descobre, a grande nave estremece de alegria e o c�ntico triunfal da luz espalha-se por toda ela em grandes len�ois de oiro[18]�.

 

*
*     *{66}

 

Eu termino.

Lunga fu la gioniata� como diz o Poeta—longa e fastidiosa, ai de v�s, ai de mim! Pil�to inhabil, atarantadamente guiei os vossos passos atrav�z de regi�es cuja extranha beleza a minha palavra dura e a minha sciencia minguada vos n�o souberam salientar. Adivinho os vossos reproches e curvo, em silencio, a pecad�ra cab��a...

Mas se, para n�o agravar as muitas culpas de que me acuso, vos poupo miudas justifica��es, outrotanto n�o posso fazer com respeito a certa falta, que absolutamente care�o de explicar.

Prometi eu falar-vos do riso na Meia-Idade e, afinal, apenas vos contei—e qu�o pobremente o fiz!—da clara alegria{67} medieval.

Certo, o riso e alegria s�o irm�os. �s vezes, por�m, t�o arredados andam um do outro, que mais se diriam extranhos que gerados no mesmo ventre. Nas m�scaras dos que nos rodeiam quantos risos sem timbre! quanta alegria tambem que desconhece o esgar hilariante! � que os primeiros, � similhan�a de certas bizarras plantas que n�o carecem da terra para viver, podem florir sem ter raizes na alma. Mas a segunda � o pr�prio humus que palpita sob o profundo beijo de Anteu, a pr�pria alma exaltada e transfigurada. Joana de Arc, sagrando Carlos VII ap�s a sua marcha heroica e miraculosa s�bre Reims, n�o sorriu; mas o seu cora��o batia as azas, festivamente, como uma pomba em maio... S�bre o glorioso Monte Alverne, na manhan dos Stigmas, o{68} divino filho de Bernardone n�o sorriu tambem; mas os seus olhos brilhavam, como se toda a luz do sol lhe cantasse dentro do peito.

Foi de uma alegria assim que eu vos falei, de uma prodigiosa alegria que, durante s�culos, f�z bater mais depressa o cora��o de um mundo adolescente—e n�o do riso que os homens dessas eras t�o espontanea e clamorosamente riram. Porque, atrav�z de todas as miserias, de todas as vexa��es, de todos os dramas, essas �speras creaturas souberam rir o mais puro e claro riso que a velha Europa viu rir depois que os herois de Homero se calaram. Simplesmente—e com isto penso absolver-me da volunt�ria culpa—�sse belo riso n�o � para aqui, para um auditorio que tantas e t�o gentil�ssimas senhoras aformoseiam.{69}

As catedrais medievas s�o verdadeiros museus de inconveniencias lavradas em granito. Nenhum acto, por mais intimo, da vida de cada um se exime a figurar nelas com um realismo s� familiar aos compendios de fisiologia[19].

De uma velha inglesa solteirona sei eu que, em frente de um capitel em que duas nudezes se enroscavam mais vivamente, ia rebentando de apoplexia. E, comtudo, l� na pens�o belga em que a conheci, rosnava-se com bonhomia que Vesta talvez n�o fizesse boa cara �s oferendas desta encorti�ada pucela...

De facto, a chala�a dos nossos av�s frequentemente descamba no escabroso. E as suas melhores boutades ainda s�o aquelas que s� podemos contar aos amigos em noites de tertulia ruidosa ou, pelo telefone... �s madamas curiosas.{70}

Ingenuos, simples, duma franqueza de crian�as terriveis, amando rir e nunca perdoando a quem os arreliava, os ma��os obscuros que conceberam e realizaram a suprema obra de arte da Meia Idade j�mais souberam calar o que lhes ia nas almas, quer se tratasse dum sonho, quer duma far�ada.

Um companheiro f�ra surpreendido numa atitude grotesca? Dias depois uma g�rgula trav�ssa, suspensa no ar, faria rir toda a colonia de pedreiros e os fieis que entravam para a missa. Um juiz prevaric�ra, deix�ra-se subornar? O artista imortalisar-lhe-hia a fa�anha, pintando-o com orelhas de burro, pernas de pato e compridas garras de ave de pr�sa.

A ninguem perdoavam, nem aos senhores que tudo podiam s�bre os corpos, nem aos clerigos, que tudo podiam{71} s�bre as almas.

Mas, eu nunca mais terminaria se come�asse a desfiar o ros�rio de anecdotas que as velhas catedrais sabem de c�r!...

Para V. Ex.as fazerem uma ideia mais precisa desta crua franqueza, passo a ler um fragmento de uma carta que Bocacio escreve a Mainardo de Cavalcanti, apreciando o �D�cameron� e censurando este seu amigo por haver deixado ler tal livro �s mulheres do seu entourage:

�Eu nunca poderei louvar-te por haveres deixado que as mulheres que te rodeiam lessem os meus carapet�es. Rogo-te, por isso, que nunca mais consintas semelhante coisa. Bem sabes quanto desaf�ro e ofensas � decencia, quantas excita��es aos amores impudicos, quantas passagens capazes de arrastar{72} � pr�tica de m�s ac��es os cora��es mais experimentados nesse livro se encontram. Se as mulheres honradas, em cujas frontes brilha ainda o santo pud�r, se n�o deixam induzir ao adult�rio, tal leitura, no entanto, pode tornar as suas almas impudicas e vicial-as pela tara obscena da concupiscencia. No caso em que a honra destas mulheres n�o baste para te conter, ent�o pensa na minha, pois aqueles que me lerem h�ode imaginar que eu n�o passo de um desprezivel alcoviteiro e de um velho debochado, divulgador das patifarias de outrem�[20].

Que artista de hoje subscreveria t�o desassombrado libelo contra a pr�pria obra?

E j� que evoquei a interessante figura do pitoresco filho de Certaldo, n�o{73} a deixarei sem contar-vos uma anecdota que vos dir�, melhor que todos os meus coment�rios, como os nossos av�s se desforravam dos remoques das donas que se burlavam de amorios.

Boc�cio, j� velho, tendo encontrado no seu caminho uma formosissima viuva florentina, apaixonou-se violentamente por ela. A dama, astuciosa e galhofeira, fingiu n�o desdenhar as homenagens do poeta, que, entusiasmado, lhe mandou cartas s�bre cartas, todas palpitantes dum amor vulcanico. A certa altura, a ironica deusa, sentindo a necessidade de p�r um dique forte �quela tumultuosa verbosidade e desejando imenso folgar de g�rra com as amigas, reuniu todas as cartas e publicou-as. O escandalo foi enorme em Floren�a. Ent�o, para vingar os seus ultrajados brios de Lovelace serodio, o nosso{74} amoroso escreveu uma tremenda verrina contra as mulheres, a que p�s o nome de Corbaccio ou O Labirinto do Amor, por nela se tratar das angustias dum namorado perdido na floresta do Amor e que dela � tirado por um Espirito tutelar. O namorado, bem de ver, � o pr�prio Boccacio e o Espirito a sombra do marido morto, que vem do inferno � terra para desencantar o m�sero transviado, a quem revela, complacentemente, toda a miseria fisica e moral do conjuge ironista.

Oi�amos a fala rancorosa:

�Quem a visse, como eu a via todas as manhans, com o seu barrete enfiado na cabe�a, o manto de noite s�bre os ombros, ir acocorar-se � beira do fog�o, e lhe tivesse contemplado os olhos ramelentos, encovados e ba�os, tossindo e cuspinhando sempre,{75} teria esquecido cem mil amores�.

E por este diapas�o afina o resto da tirada! Num dado momento abandona o seu caso particular e generalisa:

�As mulheres apenas se ocupam de parecerem belas e serem admiradas. Nenhuma ha que seja ajuizada e capaz de agir criteriosamente. Todas elas s�o inconstantes, levianas, fr�volas, querem e n�o querem uma coisa ao mesmo tempo, excepto se ela se relaciona com os seus desregrados apetites..... Fingem-se medrosas e t�midas; se est�o num logar elevado, queixam-se de vertigens; se � necess�rio entrar num barco, aqui-del-rei que o seu delicado estomago n�o o suporta; se se trata de caminhar de noite, receiam encontrar espiritos, duendes e at� mesmo ratos; se o vento sacode uma janela ou da{76} parede se despega uma pedrinha, todas se cobrem de suores frios.

Deus sabe, no entanto, como elas s�o atrevidas, quando se trata do que lhes apraz! N�o h� rudeza de logar, precipicios de montanha, altura de palacio, obscuridade de noite, que sejam capazes de as deter!�[21]

N�o se agastem Vossas Excelencias, Minhas Senhoras, com as desamaveis reflex�es do poeta, nem comigo tampouco, que apenas as reproduzo pelo saboroso pitoresco que encontro nelas. Tais desabridos queixumes, no fim de contas, s� em favor da mulher redundam. De ela tudo se tem dito desde que o mundo � mundo—todo o bem e todo o mal. As mulheres fazem-me lembrar as obras de arte, que s� s�o inteiramente m�s quando ninguem fala{77} de elas. E a verdade, a grande verdade � que as mulheres s�o obras de arte de que n�s, homens, constantemente e regaladamente nos ocupamos.

Mas se, para merecer o vosso perd�o, isto n�o basta ainda, recordar-vos-hei que, enquanto Boc�cio dava largas � sua misogenia de despeitado, o seu amigo Petrarca continuava a exal�ar Laura e na mem�ria de todos os cora��es persistia a saudade amorosissima da mulher de excep��o que o Dante imortalisou!

*
*     *

Com a Renascen�a o grande riso puro, vibrante, terra-a-terra, desaparece de todos os labios para dar logar � casquinada erudita e petulante do �humanismo�.{78} Os humoristas da transi��o—Ariosto, Rabelais, o nosso mestre Gil e, mais tarde, Moli�re, Cervantes, o pintor Brueghel-o-Velho e at� o pr�prio Brant�me—s�o a gargalhada suprema, embora um pouco dolorosa, dum mundo na agonia.

Oh! o De profundis inegualavel!

De ent�o para c� a alegria torna-se uma palavra quasi sem sentido, voc�bulo inerte que os dicionarios.—que s�o museus de palavras—guardam s�mente para satisfa��o de arqueologos amadores de inutilidades. No dia em que o homem descobriu o sorriso e a ironia, da sua boca desertou para sempre o grande riso de outrora.

Hoje, esbofado por cinco duros seculos de marchas for�adas para a Civilisa��o, nem mesmo esse sorriso e essa ironia lhe restam! Quando tenta rir, os{79} musculos do facies resistem ao desejo, cavando-lhe mais fundo a sua tisica grimace de neurastenico arqui-civilisado; e, se procura ironisar, as palavras saem-lhe pela garganta com um rangido seco, gritante, agudissimo, de porta com gonzos p�rros.{80}

 

 

 

 

[1] H. Taine, Philosophie de l'art, 1.� vol.

[2] CH. SEIGNOBOSHistoire de la Civilisation: Moyen �ge et temps modernes, 5i�me �d. S�bre os monumentos de Rav�na, a Bisancio italiana, consulte-se o interessante volume de Charles Diehl, Ravenne, ed. Laurens—Paris, 1907.

[3] E. P�CAUT E CHARLES BAUDEL'art, 10i�me �d.

[4] SALOMON REINACHApollo, 5i�me �d.

[5] EUG�NE V�RONL'esth�tique, 1878.

[6] E. V�RONOp. cit.

[7] Na impossibidade de reproduzir o croquis em referencia, indicamos ao leitor, que pelo assumpto se interesse, o livro j� citado de E. P�CAUT e CH. BAUDE e o valioso trabalho de ELIE FAURE, �Histoire de l'art: L'art medieval�. Em qualquer de �les, bem como em qualquer antologia desenvolvida de artes pl�sticas, o curioso encontrar� n�o s� a reproduc��o do aludido monumento como a de outros, que o ajudar�o a completar a sua vis�o est�tica d�ste periodo.

[8] Histoire du rire et de la caricature.

[9]MILE GEBHART, no seu curioso romance Autour d'une tiare, revive o duelo formidavel, atrav�s das predicas antag�nicas do asceta Egidius e do tolerante bispo Joaquim, curiosa figura de pre-franciscano, que o auctor esbo�ou sugestionado pelo grande vulto do Santo que a Idade-Media com mais fervente e duradoiro culto venerou.

[10]LIE FAURE, Op. cit.

[11]MILE GEBHARTL'Italie mystique.

[12] S. Francisco de Assis � o poeta m�xinio da Alegria—uma suprema figura de assombro. Na aurea legenda do cristianismo n�o ha vulto que o exceda em bel�sa moral, nem l�bios que tenham rido um riso mais comovido e pacificador que o seu. O Snr. JAIME DE MAGALH�ES LIMA resume assim um dos pontos mais salientes da clara doutrina do Poverello: �A m�goa ser� pecado de rebeldia; n�o ha d�r que n�o se torne ben�fica, para exalta��o da carne ou do espirito; a desgra�a � uma ilus�o; a toda a sorte havemos de sorrir; porque sempre, qualquer que seja, � caminho do bem. Todo o estado conduz � perfei��o; em todo o momento trabalhamos na construc��o de um edif�cio infindo de infinita belesa. A trist�sa ser� uma infidelidade religiosa; quem a admitiu no cora��o esqueceu o Senhor e os seus des�gnios.� Cf. apud �S. Francisco de Assis� pag. 150. Com o doce amigo do cardeal Hugolino (mais tarde Greg�rio IX) o catolicismo atinge o seu mais belo significado e um dos pontos mais culminantes da sua hist�ria—s� comparavel ao periodo heroico do Apostolado. A quem o assumpto desperte interesse aconselho a leitura dos tr�s belos trabalhos do dinamarqu�s JOHANNES JOERGENSON, de uma rigorosa probidade scientifica e de um encantador relevo liter�rio: Saint Fran�ois d'Assise, P�lerinages franciscains e Le livre de la route (trad. de Teodor de Wyzewa,) Perrin & C.ie, Paris.

[13]Les Fableaux sont sur tons sujets: y paraissent Dieu, les anges, les diables, les saints, les chevaliers, les trouv�res, les jongleurs (trouv�res de second ordre), les bourgeois, les moines—tr�s souvent—les paysans. Les hommes de toutes classes de la societ� y sont moqu�s, quelquefois avec une extr�me finesse, quelquefois avec une verdeur gauloise un peu rude..... Les Fableaux peuvent �tre consider�s comme la grande oeuvre de sagesse bourgeoise, de bon sens un peu sec et dur et de gauloiserie divertissante du moyen �ge. Les romans de renart sont du m�me genre, mais avec plus d'ingeniosit�.� Cf. E. FAGUET. Petite histoire de la litt�rature fran�aise, pag. 6 e 7. �Papas, reis e senhores, se nas can��es recebiam a vassalagem da adula��o, encontravam nas cantigas de mal dis�r o mais desassombrado castigo e a mais dura vingan�a. A avaliar pelo que dos cancioneiros nos resta, o comentario pol�tico e religioso teriam assumido uma extens�o incrivelmente audaciosa� Cf. HIPPOLYTO RAPOSO, Sentido do Humanismo, pag. 14.

[14] �A fachada de Nossa Senhora de Paris, que est� longe de ser a mais rica, tem sessenta e oito est�tuas muito maiores que o natural e a maioria de elas executadas com rara perfei��o; ha mais de cem em cada um dos p�rticos de Nossa Senhora de Chartres e de Amiens�. ED. CORROVER, �L'architecture gothique� pag. 157.

[15] MALE, cit. pelo DR. CABAN�S, Moeurs intimes du Pass�, 3.i�me s�rie Paris.

[16]Philosophie de l'art� cit., pag. 81 e seg.

[17]Voyage en Italie� t�mo II.

[18] E. FAURE, op. cit., pag. 229 e segg.

[19] CANAN�S op. cit.

[20] E. RODOCANACHI, Boccace: po�te, conteur, moraliste, homme politique, Hachette, Paris, 1908.

[21] RODOCANACHI, op. cit.

 

 

 

 

PEQUENO MEMENTO
BIBLIOGR�FICO

A. KRAFT, Petit manuel d'architecture, Georg & C.�, B�le et Gen�ve, 1899.

ALFRED LENOIR, Anthologie d'art; sculpture et peinture, Armand Colin, Paris, sem data.

ANDR� MICHEL, Reims, Soissons, Senlis, Arras—Mgr. BAUDRILLART, Louvain, Plon-Nourrit, Paris, 1915.

ARS�NE ALEXANDRE, L'art du rire et de la caricature, Librairies-Imprimeries r�unies, Paris, sem data.

A. RAGUENET, Petits �difices historiques, Librairies-Imprimeries reunis, 6 vols. Paris, v�rias datas.

CABAN�S (DR.) Moeurs intimes du Pass�, 3 s�ries (especialmente a 3.�) A. Michel, Paris, sem data.

CH. DIEHL, Ravenne, H. Laurens, Paris, sem data.

CH. SEIGNOBOS, Histoire de la Civilisation, (2.� vol.: Moyen �ge et temps modernes), 5.� ed., Masson & C.ie, Paris, 1905.

E�A DE QUEIROZ, Notas Contemporaneas, Lelo & Irm�o, Porto, 1905.

EDME ARCAMBEAU, Les cath�drales de France, 3 vols., A. Perche, Paris, 1912.

ED. CORROVER, L'architecture gothique, nova edi��o A. Picard & Kaan, Paris, sem data.

LIE FAURE, Histoire de l'art (2.� vol.: L'art m�dieval), H. Floury. Paris, 1912.

E. P�CAUT ET CH. BALDE, L'art, 10.� ed., Larousse, Paris, sem data.

MILE BAYARD, L'art de reconna�tre les styles, Garnier Fr�res, Paris, sem data.

IDEM, Les grands Maitres de l'art. Garnier Fr�res, Paris, 1909.

MILE FAGUET, Petite histoire de la litt�rature fran�aise, Georges Cr�s & C.ie, Paris, sem data.

MILE GEBHART, L'Italie mystique, 10.� ed., Hachette, Paris, 1906.

IDEM, Autour d' une tiare, Georges Cr�s & C.e, Paris, sem data.

F. RODOCANACHI, Boccace: po�te, conteur, moraliste, homme politique, Hachette, Paris, 1908.

EUG�NE V�RON, L'esthetique, C. Reinwald & C.ie, Paris, 1878.

GEORGE LAFENESTRE, Saint Fran�ois d'Assise et Savonarole, inspirateurs de l'art italien, Hachette, Paris, 1911.

HENRI HYMANS, Bruxelles, Laurens, Paris, 1910.

HENRY MARTIN, Les peintres de manuscripts et la miniature en France, Laurens, Paris, sem data.

H. ROUJON, Breughel-le-vieux, Lafitte, Paris, sem data.

HYPPOLITE TAINE, Philosophie de l'art, 2 vols. 13.� ed., Hachette, Paris, 1909.

IDEM, Voyage en Italie, 2 vols., nova edi��o, Hachette, Paris, 1910.

HYPPOLITO RAPOSO, Sentido do Humanismo, Fran�a Amado, Coimbra 1914.

JACQUES DE VORAGINE, La l�gende dor�e, Perrin & C.ie, Paris.

JAYME DE MAGALH�ES LIMA, S. Francisco de Assis, Fran�a Amado, Coimbra, 1908.

JOHANNES JOERGENSON, Saint Fran�ois d'Assise, sa vie et son oeuvre, 13.� ed., Perrin & C.ie, Paris, 1910.

IDEM, P�lerinages franciscains, 9.� ed., Perrin & C.ie, Paris, 1912.

IDEM, Le livre de la route, 3.� ed., Perrin & C.ie, Paris, 1912.

SALOMON REINACH, Apollo, histoire g�n�rale des arts plastiques, 5.� ed., Hachette, Paris.

Enciclopedia universal ilustrada europea-americana. (Tomo XI art.: Caricatura) Jos� Espasa � Hijos, Barcelona, sem data.

Nouveau Larousse illustr�. (Tomo II, art.: Caricatura) Larousse, Paris, sem data.

Le vieux Paris (Guide historique, pittoresque & anecdotique) Impresso chez M�nard et Chaufour, Paris. (Exposi��o Universal de 1900).

 

 

 

 

ACABOU DE IMPRIMIR-SE
ESTA BROCHURA AOS 21
DE DEZEMBRO DE 1915
NA TIPOGRAFIA DO
PORTO-GR�FICO.

 





End of Project Gutenberg's O Claro Riso Medieval, by Jo�o de Lebre e Lima

*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CLARO RISO MEDIEVAL ***

***** This file should be named 34623-h.htm or 34623-h.zip *****
This and all associated files of various formats will be found in:
        https://www.gutenberg.org/3/4/6/2/34623/

Produced by Mike Silva

Updated editions will replace the previous one--the old editions
will be renamed.

Creating the works from public domain print editions means that no
one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
(and you!) can copy and distribute it in the United States without
permission and without paying copyright royalties.  Special rules,
set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark.  Project
Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
charge for the eBooks, unless you receive specific permission.  If you
do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
rules is very easy.  You may use this eBook for nearly any purpose
such as creation of derivative works, reports, performances and
research.  They may be modified and printed and given away--you may do
practically ANYTHING with public domain eBooks.  Redistribution is
subject to the trademark license, especially commercial
redistribution.



*** START: FULL LICENSE ***

THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK

To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
distribution of electronic works, by using or distributing this work
(or any other work associated in any way with the phrase "Project
Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
Gutenberg-tm License (available with this file or online at
https://gutenberg.org/license).


Section 1.  General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
electronic works

1.A.  By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
and accept all the terms of this license and intellectual property
(trademark/copyright) agreement.  If you do not agree to abide by all
the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.

1.B.  "Project Gutenberg" is a registered trademark.  It may only be
used on or associated in any way with an electronic work by people who
agree to be bound by the terms of this agreement.  There are a few
things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
even without complying with the full terms of this agreement.  See
paragraph 1.C below.  There are a lot of things you can do with Project
Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
works.  See paragraph 1.E below.

1.C.  The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
Gutenberg-tm electronic works.  Nearly all the individual works in the
collection are in the public domain in the United States.  If an
individual work is in the public domain in the United States and you are
located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
are removed.  Of course, we hope that you will support the Project
Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
the work.  You can easily comply with the terms of this agreement by
keeping this work in the same format with its attached full Project
Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.

1.D.  The copyright laws of the place where you are located also govern
what you can do with this work.  Copyright laws in most countries are in
a constant state of change.  If you are outside the United States, check
the laws of your country in addition to the terms of this agreement
before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
creating derivative works based on this work or any other Project
Gutenberg-tm work.  The Foundation makes no representations concerning
the copyright status of any work in any country outside the United
States.

1.E.  Unless you have removed all references to Project Gutenberg:

1.E.1.  The following sentence, with active links to, or other immediate
access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
copied or distributed:

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
almost no restrictions whatsoever.  You may copy it, give it away or
re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
with this eBook or online at www.gutenberg.org

1.E.2.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
and distributed to anyone in the United States without paying any fees
or charges.  If you are redistributing or providing access to a work
with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
1.E.9.

1.E.3.  If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
with the permission of the copyright holder, your use and distribution
must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
terms imposed by the copyright holder.  Additional terms will be linked
to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
permission of the copyright holder found at the beginning of this work.

1.E.4.  Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
License terms from this work, or any files containing a part of this
work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.

1.E.5.  Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
electronic work, or any part of this electronic work, without
prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
active links or immediate access to the full terms of the Project
Gutenberg-tm License.

1.E.6.  You may convert to and distribute this work in any binary,
compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
word processing or hypertext form.  However, if you provide access to or
distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
form.  Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
License as specified in paragraph 1.E.1.

1.E.7.  Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.

1.E.8.  You may charge a reasonable fee for copies of or providing
access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
that

- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
     the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
     you already use to calculate your applicable taxes.  The fee is
     owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
     has agreed to donate royalties under this paragraph to the
     Project Gutenberg Literary Archive Foundation.  Royalty payments
     must be paid within 60 days following each date on which you
     prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
     returns.  Royalty payments should be clearly marked as such and
     sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
     address specified in Section 4, "Information about donations to
     the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."

- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
     you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
     does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
     License.  You must require such a user to return or
     destroy all copies of the works possessed in a physical medium
     and discontinue all use of and all access to other copies of
     Project Gutenberg-tm works.

- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
     money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
     electronic work is discovered and reported to you within 90 days
     of receipt of the work.

- You comply with all other terms of this agreement for free
     distribution of Project Gutenberg-tm works.

1.E.9.  If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
electronic work or group of works on different terms than are set
forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark.  Contact the
Foundation as set forth in Section 3 below.

1.F.

1.F.1.  Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
collection.  Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
works, and the medium on which they may be stored, may contain
"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
your equipment.

1.F.2.  LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
liability to you for damages, costs and expenses, including legal
fees.  YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
PROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3.  YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
DAMAGE.

1.F.3.  LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
written explanation to the person you received the work from.  If you
received the work on a physical medium, you must return the medium with
your written explanation.  The person or entity that provided you with
the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
refund.  If you received the work electronically, the person or entity
providing it to you may choose to give you a second opportunity to
receive the work electronically in lieu of a refund.  If the second copy
is also defective, you may demand a refund in writing without further
opportunities to fix the problem.

1.F.4.  Except for the limited right of replacement or refund set forth
in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.

1.F.5.  Some states do not allow disclaimers of certain implied
warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
the applicable state law.  The invalidity or unenforceability of any
provision of this agreement shall not void the remaining provisions.

1.F.6.  INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
with this agreement, and any volunteers associated with the production,
promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
that arise directly or indirectly from any of the following which you do
or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.


Section  2.  Information about the Mission of Project Gutenberg-tm

Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
electronic works in formats readable by the widest variety of computers
including obsolete, old, middle-aged and new computers.  It exists
because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
people in all walks of life.

Volunteers and financial support to provide volunteers with the
assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
remain freely available for generations to come.  In 2001, the Project
Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.


Section 3.  Information about the Project Gutenberg Literary Archive
Foundation

The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
Revenue Service.  The Foundation's EIN or federal tax identification
number is 64-6221541.  Its 501(c)(3) letter is posted at
https://pglaf.org/fundraising.  Contributions to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
permitted by U.S. federal laws and your state's laws.

The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
throughout numerous locations.  Its business office is located at
809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
business@pglaf.org.  Email contact links and up to date contact
information can be found at the Foundation's web site and official
page at https://pglaf.org

For additional contact information:
     Dr. Gregory B. Newby
     Chief Executive and Director
     gbnewby@pglaf.org


Section 4.  Information about Donations to the Project Gutenberg
Literary Archive Foundation

Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
spread public support and donations to carry out its mission of
increasing the number of public domain and licensed works that can be
freely distributed in machine readable form accessible by the widest
array of equipment including outdated equipment.  Many small donations
($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
status with the IRS.

The Foundation is committed to complying with the laws regulating
charities and charitable donations in all 50 states of the United
States.  Compliance requirements are not uniform and it takes a
considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
with these requirements.  We do not solicit donations in locations
where we have not received written confirmation of compliance.  To
SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
particular state visit https://pglaf.org

While we cannot and do not solicit contributions from states where we
have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
against accepting unsolicited donations from donors in such states who
approach us with offers to donate.

International donations are gratefully accepted, but we cannot make
any statements concerning tax treatment of donations received from
outside the United States.  U.S. laws alone swamp our small staff.

Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
methods and addresses.  Donations are accepted in a number of other
ways including including checks, online payments and credit card
donations.  To donate, please visit: https://pglaf.org/donate


Section 5.  General Information About Project Gutenberg-tm electronic
works.

Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
concept of a library of electronic works that could be freely shared
with anyone.  For thirty years, he produced and distributed Project
Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.


Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
unless a copyright notice is included.  Thus, we do not necessarily
keep eBooks in compliance with any particular paper edition.


Most people start at our Web site which has the main PG search facility:

     https://www.gutenberg.org

This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.