The Project Gutenberg EBook of S� de Miranda, by Antero Tarqu�nio de Quental and Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco and Joaquim de Araujo This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org Title: S� de Miranda Com uma carta �cerca da Author: Antero Tarqu�nio de Quental Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco Joaquim de Araujo Release Date: June 19, 2008 [EBook #25845] Language: Portuguese Character set encoding: ISO-8859-1 *** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK S� DE MIRANDA *** Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images of public domain material from Google Book Search) Anthero de Quental & C. Castello Branco S� de Miranda Com uma carta �cerca da "Bibliographia Camilliana" de Henrique Marques por Joaquim de Araujo LISBOA Typ. da Companhia Nacional Editora LARGO DO CONDE BAR�O, 50 1894 S� de Miranda Anthero de Quental & C. Castello Branco S� de Miranda Com uma carta �cerca da "Bibliographia Camilliana" de Henrique Marques por Joaquim de Araujo LISBOA Typ. da Companhia Nacional Editora LARGO DO CONDE BAR�O, 50 1894 POESIAS DE S� DE MIRANDA Edi��o feita sobre cinco manuscritos ineditos e todas as edi��es impressas, acompanhada de um estudo sobre o Poeta, variantes, notas, glossario, e um retrato, por Carolina Micha�lis de Vasconcellos; Halle, Max Niemeyer, 1885. � esta a primeira edi��o critica das Poesias de Francisco de S� Miranda, o Horacio e o Seneca portuguez, como lhe chamaram os contemporaneos, o reformador do Parnaso portuguez no seculo XVI. Foi necessario que se passassem mais de 300 annos (Miranda morreu em 1558: a primeira impress�o de parte das suas obras tem a data de 1595) para que apparecesse uma edi��o critica, indispensavel todavia desde o primeiro dia. E ainda assim n�o a devemos a nenhum dos nossos--como a nenhum dos nossos devemos a admiravel edi��o do Cancioneiro de Garcia de Resende (de Stuttgard), a edi��o diplomatica do Cancioneiro do Vaticano (publicada em Halle pelo italiano Monaci) e tantos outros valiosissimos trabalhos sobre a nossa lingua e literatura, publicados, no decurso dos ultimos 50 annos, em Allemanha, Holanda e Fran�a. Uma senhora alleman, hoje portugueza pelo casamento, pessoa t�o modesta como intelligente e laboriosa, e a quem a historia da lingua e literatura portuguezas tinha j� a agradecer trabalhos, que, por passarem desapercebidos nesta verdadeira Caverna do Esquecimento, que � o Portugal de hoje, nem por isso deixam de ser de primeira ordem, emprehendeu e levou a cabo a restaura��o do texto do grande poeta moralista do seculo XVI, que at� agora andava, mais do que o de nenhum outro dos seus contemporaneos, incerto, obscuro e deturpado. O trabalho corresponde plenamente ao muito que havia a esperar do saber e penetra��o da autora daquella notavel s�rie de Estudos camonianos, que come�aram a lan�ar alguma luz sobre o estado cahotico do texto do nosso grande lirico. Dez annos de aturado trabalho; estudo comparativo escrupolosissimo das edi��es impressas e dos manuscritos ineditos; conhecimento profundo e quasi topographico da epocha, dos costumes, dos personagens, da lingua, das tendencias intellectuaes, uma extraordinaria familiaridade com todas as _fontes_ do grande seculo; um grande e seguro sentimento da realidade historica; criterio penetrante e elevado, ainda no meio das minudencias a que tem de descer--eis o que representa esta edi��o critica, que n�o encarecerei chamando-lhe um modelo. N�o sei se entre os _romanistas_ da Allemanha (penso sobretudo no sabio Storck) haver� algum que tivesse podido desempenhar-se do encargo, como se desempenhou a sr.� D. Carolina Micha�lis: mas creio que afoutamente se p�de affirmar que em Portugal, com excep��o desta senhora, ninguem mais o poderia fazer, com igual exito. N�o � este um facto bem singular? Hoje, s�o os estrangeiros que estudam e estimam a nossa antiga literatura: n�s n�o. A crescente e hoje quasi total desnacionalisa��o do espirito publico � o facto mais consideravel da nossa psychologia collectiva, nos ultimos 50 annos. Os da actual gera��o, pode dizer-se que, pelo pensar, pelo sentir, deixaram j� de ser portuguezes. Ha por ahi muito rapaz intelligente e, a seu modo, instruido, que conhece mais ou menos Moli�re, Racine, Voltaire e at� Rabelais e Ronsard, e que nunca leu um auto de Gil Vicente, uma can��o de Cam�es, uma eglogla de Bernardim Ribeiro ou de Bernardes, uma carta de Ferreira ou de S� de Miranda. Os que conhecem um pouco intimamente a historia das revolu��es portuguezas neste seculo (n�o fallo s� das politicas) e t�em reflectido sobre ella, achar�o facilmente a explica��o deste facto e, mais do que a explica��o, a necessidade delle. Mas nem por isso deixa de ser cousa triste de considerar este abysmo de esquecimento, que se abre cada vez mais largo, entre o pallido, anemico e inexpressivo Portugal de hoje e aquelle seu grande ascendente, o heroico, o pittoresco e inspirado seculo XVI. A falta de sentimento nacional poderia, at� certo ponto (no que diz respeito ao estudo da nossa antiga literatura) ser supprimida pelo sentimento historico, pela curiosidade critica e _philologica_, como dizem os allem�es: mas a decadencia dos estudos historicos tem vindo acompanhando _pari passu_ a decadencia do sentimento nacional sem que um ponto de vista mais largo, puramente scientifico, viesse, como em Fran�a, por exemplo, substituil-o efficazmente, para compensar aquella falta, pelo menos na esphera da intelligencia e do gosto. Esse sentimento _philologico_ (geral, humano, critico, n�o restricto e nacional) � o que caracterisa, entre todas as na��es cultas, o espirito allem�o. Na sua imparcial sympathia, t�o vasta como a natureza humana, abra�a ao mesmo tempo a antiguidade e os tempos modernos, as edades classicas e os periodos barbaros, o Oriente e o Occidente, todas as ra�as e todas as culturas. Essa sympathia exige uma s� condi��o: a originalidade. Tudo quanto foi realmente vivo, quanto manifestou uma maneira _sui generis_ de ser e de sentir, tudo quanto revelou uma face distincta da complexa natureza humana, tem direito � sua atten��o. E � por isso que a erudi��o alleman se distingue por uma fei��o unica: � uma erudi��o viva. Houve erudi��o e eruditos: a curiosidade pelas cousas passadas � uma das func��es da intelligencia. Mas uma erudi��o que sente ao mesmo tempo que indaga, que critica e juntamente sympathisa, minuciosa e enthusiasta, indagadora e poetica; uma erudi��o que revolve montanhas de textos, datas, documentos, para descobrir, n�o factos seccos e mortos, mas a alma e a vida das cousas extinctas; uma erudi��o, se assim se p�de dizer, inspirada, tal como nos apparece nesses heroes da philologia, os Boeckh, Welcker, Hermann, F. A. Wolf, Winckelmann, Grimm, Niebuhr, Creuzer, Otfried Muller, Ritschl e tantos outros; uma tal erudi��o era cousa desusada, e sem precedentes. Ella transformou a comprehens�o da historia, fazendo circular uma vida nova atravez dessas cryptas dos seculos sepultos, onde a candeia fumosa da velha erudi��o academica apenas espalha uma claridade phantastica, quasi t�o morta como as cinzas que ali repousam. E ahi est� porque vemos uma senhora alleman publicar estudos magistraes sobre o texto de Cam�es, publicar uma edi��o critica das Poesias de S� de Miranda, preparando-se assim, durante annos, com toda a casta de subsidios linguisticos, historicos e archeologicos, para nos dar (ou antes, para dar � Allemanha) uma historia da literatura portugueza. Outros lhe dar�o a historia da literatura indiana, ou da chineza, da grega, da hebraica, da poesia dos Trovadores, das epopeias da Edade Media, que sei eu? pois n�o ha um canto do vasto mundo da historia, que escape � curiosidade ardente e penetrante da erudi��o alleman. A sr.� D. Carolina Micha�lis internou-se pelo reino semi-classico do Romanismo e ahi conquistou para si uma provincia, bem mais famosa do que conhecida, ainda dos mesmos nacionaes: a lingua e literatura portuguezas. Mas, dir�o muitos, que necessidade havia de uma edi��o critica de S� de Miranda? pois n�o ha por ahi tantas edi��es dos poetas Quinhentistas, desses famosos _classicos_, que pouquissimos l�em, � certo, mas que ninguem que se preze deve deixar de citar com venera��o, e at� p�de romper no excesso de ter na sua bibliotheca? Estes ignoram (nem admira) que esses veneraveis _classicos_ s�o, at� certo ponto, um mytho. Excepto o de Ferreira, nada ha mais duvidoso do que o texto desses desgra�ados poetas. Das suas obras, a maior parte s� se imprimiram depois da morte dos autores, nalguns casos vinte, trinta, ou mais annos depois. Imprimiram-se sobre copias manuscritas e geralmente copias de copias, e os editores n�o se esqueceram de juntar aos erros dos copistas, ou suppostos erros, as suas proprias _emendas_. A mesma paternidade das obras � em muitos casos duvidosa. Dos sonetos attribuidos a Cam�es pelo seu mais recente editor, o sr. T. Braga, boa ter�a parte n�o lhe pertencem ou s�o duvidosos. Tres eglogas de Bernardes s�o dadas geralmente como de Cam�es. Ha autos de Gil Vicente que pertencem muito provavelmente a outros autores. Poderiam multiplicar-se estes exemplos. Em geral, os poetas de maior nomeada absorveram pouco a pouco as composi��es dos menos famosos. E ainda se fosse s� isso! Mas o proprio texto de cada uma das composi��es n�o offerece, em geral, a authenticidade sufficiente: a linguagem foi retocada pelos copistas ou editores; muitos versos foram substituidos. Junte-se a isto a variedade de li��es, de edi��o para edi��o, de manuscrito para manuscrito (dos que ainda existem, e s�o bastantes) e comprehender-se-ha o que quiz dizer com a palavra _mytho_. Quiz dizer que quando cuidamos l�r Cam�es, por exemplo, podemos muito bem estar lendo Bernardes, ou Caminha, ou Bernardim Ribeiro, ou _vice versa_ podemos tambem estar lendo alguns daquelles _minores_, que foram absorvidos na aureola dos cinco ou seis astros de primeira grandeza--ou podemos simplesmente estar admirando o parto engenhoso do editor do seculo XVII. Os antigos editores portuguezes nunca primaram por criticos: se ainda � t�o raro encontrar um que o seja! O editor portuguez era, antes de tudo um _devoto_: elle sahia � estacada, n�o para apurar um texto, o texto preciso, com as suas lacunas, defeitos ou erros, se os tinha, mas para levantar o _seu poeta_ acima de todos os outros, attribuindo-lhe o maior numero possivel de composi��es e com a forma mais perfeita possivel. Se encontrava um papel velho, no canto de alguma bibliotheca devia ser do _seu poeta_: publicava-o. Se os versos eram maus, � porque a copia estava errada: emendava-os. E � assim que, de edi��o para edi��o, foi crescendo o numero de composi��es duvidosas, crescendo o numero de interpeta��es e emendas, com que o texto cada vez mais se ia depurando. Dos poetas do seculo XVI, os dois mais maltrados pela _devo��o_ impertinente dos editores s�o sem duvida S� de Miranda e Cam�es. Para este ultimo n�o sabemos quando chegar� o dia da justi�a (da justi�a philologica, entenda-se) mas deve estar longe, a avaliar pela maneira porque os seus dois mais recentes editores, ali�s benemeritos pelo trabalho e grande amor ao poeta, os srs. Visconde de Juromenha e Theophilo Braga, se houveram nas suas edi��es, que, em pontos de critica, correm parelhas com as dos mais _devotos_ editores do seculo XVII. Talvez nunca chegue, a n�o ser que se metta nisso algum allem�o. S� de Miranda, ao menos, p�de l�r-se com seguran�a no texto critico, admiravelmente discutido e apurado, da edi��o de Halle. Sou pouco erudito, nem estou escrevendo um artigo para alguma Revista philologica, mas uma simples noticia para um jornal diario: por estas duas raz�es, n�o me posso alargar pela analyse do trabalho da sr.� D. Carolina Micha�lis, entrando pela parte technica delle. Quero s� observar ainda uma cousa: � que este volume de mais de 1000 paginas, e carregado de notas, � um livro interessantissimo. Porque? pelo que acima disse do caracter da philologia alleman. O sentimento historico anima toda aquella erudi��o; a comprehens�o da epocha d� relevo e interesse �s indaga��es apparentemente aridas de datas, genealogias, etc. A cada passo encontramos uma circumstancia, um facto biographico, pormenores de costumes, que abrem repentinamente uma nesga do horisonte sobre aquella vida extincta e a fazem resurgir para a nossa imagina��o. Quanto saber, mas saber intelligente, saber que diz e ensina, enterrado modestamente naquellas notas, que occupam as ultimas 200 paginas do volume! Essas notas, juntas com a magistral Introduc��o, constituem uma verdadeira monographia de S� de Miranda. Com aquelles elementos poderia a auctora ter feito propriamente um livro de _literatura_, que se contaria entre os melhores e seria lido, citado e festejado. Preferiu a essas vaidades o cumprimento quasi religioso de um encargo, ha tres seculos por cumprir, fazendo ao velho Poeta o maior servi�o que elle imploraria, se podesse erguer a voz do seu tumulo: a restaura��o do texto das obras. _O bom S�_ (como lhe chamavam no seculo XVI e depois) encontrou afinal um nobre espirito, que piedosamente e quasi filialmente escutou aquelle queixume de uma pobre larva e consagrou dez annos da sua vida para a satisfazer. O _bom S�_ deve agora dormir descan�ado no seu tumulo. Bom S�! Diz o velho biographo que, nos seus ultimos tempos, "com a magoa do que lhe revelava o espirito dos infortunios da sua terra se affligia tanto, que muitas vezes se suspendia e derramava lagrymas sem o sentir." Tenho scismado muitas vezes nestas lagrymas do poeta humanista da Renascen�a. E, n�o sei como, a minha imagina��o approxima-as logo da tragica melancholia de Miguel Angelo, da nobre tristeza de Vittoria Collona, da misanthropia incuravel de Machiavel, da nuvem de desgosto e desalento que envolveu a velhice de quasi todos os grandes espiritos da Renascen�a. Tinha motivo de chorar o nosso S� de Miranda, como tinham motivo de se entristecerem os seus illustres congeneres. � que elles presentiam todos, uma cousa sinistra: o abortamento da Renascen�a. �quella immensa aurora succedia, quasi sem transi��o, o crepusculo nocturno: e elles, os videntes, devisavam naquelle crepusculo inquietador os movimentos de formas estranhas e sombrias, como de monstros desconhecidos, e ouviam passar vozes mais assustadoras ainda, vozes que cresciam formidaveis de todos os pontos do horisonte, sem se ver quem as soltava. Ahi por 1550, o abortamento da Renascen�a era j� visivel aos olhos dos que ainda restavam daquellas duas incomparaveis gera��es dos promotores della. O Concilio de Trento entrara j� na sua 6.� sess�o e era agora irremediavel a scis�o do mundo latino com a Reforma germanica. Come�avam as guerras da religi�o, que iam durar, numa furia crescente, perto de cem annos, destruindo na��es inteiras. Os Jesuitas abriam os seus Collegios, onde o espirito da Renascen�a, sophismado, amesquinhado, pervertido, servia de capa � reac��o. Por toda a Peninsula, fumavam e crepitavam as fogueiras da Inquisi��o. O Humanismo alado transformava-se em erudi��o plumbea, inerte. A Arte cahia da crea��o no amaneiramento. Um furor indiscriptivel, furor de disputas, furor de matan�as, apossava-se da Europa e o pensamento livre, os sentimentos largos e humanos, a alta cultura pareciam prestes a desapparecer da face da terra. Tudo isto viam ou previam aquelles grandes espiritos. Tinham sonhado salvar o mundo pela raz�o, e a raz�o parecera impotente, e o mundo desesperado appellava definitivamente para a sem-raz�o. Dahi aquellas incuraveis melancholias de uns, aquella desdenhosa misanthropia de outros; dahi as lagrymas do nosso S�. Este antevia ainda outra cousa: a morte da patria. Aquelle ouro do Oriente parecia-lhe j� (como depois se viu bem que era) um caustico sobre o corpo da na��o, que lhe queimava, que lhe roia as carnes, at� a deixar secca de todo, um esqueleto. Tinha motivo sobejo de chorar, o pobre poeta! Sim, lembram-me muitas vezes aquellas lagrymas. Descubro mais de uma analogia entre aquella idade e a nossa. A raz�o n�o morreu, afinal. Soterrada, respirando apenas, resurgiu todavia. S�mente mudou de trajo e de nome: j� n�o � Humanismo, como no seculo XVI: chama-se agora Philosophia, mas � sempre a mesma, � sempre a ras�o. E n�s tambem, filhos da Philosophia, sonhamos salvar o mundo pela ras�o, dar-lhe ordem e paz com as leis eternas por ella reveladas. Mas o mundo parece novamente atacado de vertigem, parece appellar mais uma vez para a sem-ras�o, para os instinctos bestiaes e para uma supersti��o mais monstruosa ainda do que as passadas: a supersti��o da for�a. A democracia � maneira que triumpha, perverte-se, parecendo preparar-se para marcar um despotismo sem nome, o despotismo anonymo da multid�o, o achatamento universal. Lembram-me as lagrymas de S� de Miranda. Se teremos tambem de as chorar na nossa velhice? Esperemos que n�o, ou digamol-o, pelo menos, para n�o desanimar ninguem--para n�o desanimarmos tambem n�s. Junho de 1886. ANTHERO DE QUENTAL. UMA SATYRA DE S� DE MIRANDA Alguns jornaes provincianos, quando o sr. visconde de Lindoso, ha dois mezes, foi promovido a conde, disseram que na gera��o de s. exc.� havia dezenove alcaides-m�res de Lindoso, a contar desde o reinado de D. Diniz. Se ha erro na contagem, n�o serei eu que o corrija. O leitor n�o hade, desta vez, exultar com a certeza de que o sr. conde de Lindoso tem dezenove alcaides na sua arvore genealogica. O meu proposito � averiguar se algum d�sses dezenove praticou fa�anha que o immortalisasse na chronica ou na epop�a. Effectivamente, deparou-se-me um, cujo nome est� identificado a uma poesia de Francisco de S� de Miranda. Dos outros, por emquanto, apenas sei os nomes e as tradi��es provaveis dumas existencias obscuramente e honradamente pacatas em Guimar�es, no transcurso de quatro seculos. A celebridade que S� de Miranda, commendador das Duas Egrejas, deu ao alcaide seu contemporaneo e visinho, n�o � nada �pica. Chamava-se o alcaide-m�r de Lindoso, Christov�o do Valle, e residia no seu castello. S� de Miranda morava na sua casa commendataria da Tapada, n�o longe de Lindoso. Tinha o poeta um criado gallego que o alcaide, especie de administrador de concelho e commissario de policia do seculo XVI, prendeu por motivos insignificantes. S� de Miranda, escrevendo em _Redondilhas_ a seu cunhado Manuel Machado, Senhor d'Entre-Homem e Cavado, conta-lhe a pris�o do gallego, lardeando a noticia de axiomas sentenciosos que muito lhe abonam a antonomasia de Seneca portuguez. Principia assim: Inda que eu ria, e me cale, Que me eu fa�a surdo e cego, Bem vejo eu por que o do Vale Correu tanto ao meu galego. Em quanto o do Valle lhe corre o gallego, diz elle que uns Ladr�es de seiscentas c�res Andam por aqui seguros, N�o lhe sahem taes corredores. E a causa dessa impunidade � que o alcaide n�o fazia caso dos malfeitores que lhe amea�assem o physico: Ap�s quem torna a si E primeiro mata ou morre N�o corre o do Vale assi, Que ap�s um tolo assim corre. E vae nomeando uns patifes que andavam a salvo, um Basti�o, um Ribeiro, personagens que se faziam respeitar pela valentia ou pelo dinheiro. Depois de muitas maximas de san moral, o poeta volta-se para o governo e exclama: Executores da lei, Havei vergonha algum dia! Este chama: Aqui dei rei! Este outro chama a valia. Ora o fecho da satyra, que � o mais pungente della, est� deturpado na composi��o negligente das impress�es que conhe�o, d�ste feitio: Outro chama: Portugal! De varas n�o ha e mingua. Desata a bolsa, que val. Traze sempre alada a lingua. Com esta construc��o, assim aleijada, a satyra penetrante fica de todo deslusida e estragada. Para que os equivocos flagelladores resaltem do jogo das palavras de accep��o dupla, a reconstruc��o deve ser esta: Outro diz: em Portugal[1] De varas n�o ha hi mingua; Desata a bolsa, que Val Traz sempre atada a lingua. [1]Neste verso adoptei uma variante que se encontra na ultima edi��o das poesias de S� de Miranda. � claro o intuito mordaz do poeta. Manda _desatar a bolsa_. Procede uns bons cincoenta annos o _Put money in thy purse_ de Shakespeare. O poeta inglez, pela b�cca perversa do _honest Iago_, mandava encher a bolsa; o portuguez manda desatal-a depois de cheia; � a mesma ideia. _Desata a bolsa_, diz elle, porque o Valle, o alcaide de Lindoso, quando o amorda�am com dinheiro, Traz sempre atada a lingua. O verso � m�u; mas S� de Miranda visava principalmente a fazer boa philosophia, e contentava-se em alinhavar versos conceituosos em prosa chan; por isso mofava delle o Camacho, na _Jornada do Parnaso_, taxando-o de Poeta at� o umbigo, e os baixos prosa. Seja como f�r, dos dezenove alcaides de Lindoso nenhum outro se gaba de ter o seu nome registado na obra do grande mestre da Renascen�a lyrica da Peninsula. * * * * * N�o sei se � notorio em Portugal e nomeadamente no Chiado e Clerigos que uma senhora, nascida e educada na Allemanha, e residente n�o ha muitos annos no Porto, publicou em 1885 uma edi��o das _Poesias de Francisco de S� de Miranda_, impressa em Halle. � um volume em 8.� fr. de 1085 pag.; a saber CXXXVI que comprehendem a biographia do poeta, a topographia de Carrazedo de Bouro, da quinta da Tapada, do solar de Crasto, e a noticia particularisada dos codices manuscritos e das edi��es impressas que a illustre escritora manuseou. As 946 paginas restantes comprehendem as poesias conhecidas e as ineditas colhidas de varios manuscritos, repartidas em quatro sec��es; e na sec��o ou _parte 5.�_ encontram-se todos os poemas dedicados a S� de Miranda. Na margem inferior de cada pagina inscreve a sr.� D. Carolina Micha�lis de Vasconcellos as variantes dos codices conferidos, e nas _Notas_, que come�am a pag. 739, entra s. ex.� na parte critica do seu valioso trabalho, desenvolvendo raros e copiosos conhecimentos da literatura portugueza dos seculos XV e XVI, e da vida intima dos seus poetas. Referindo-se � satyra de S� de Miranda, cujos fragmentos trasladei, escreve a illustrada senhora a pag. 754: _As allus�es a um_ da Vale... _j� n�o podem ser decifradas_. Seria assombroso que s. ex.� conseguisse exhumar da poeira dos cartapacios genealogicos de Guimar�es aquelle Christov�o do Valle, alcaide infesto ao servi�al do poeta. Quantas gera��es de leitores da carta do commendador das Duas Egrejas ter�o passado inconscientes por sobre aquellas allus�es! Nas notas, por�m, da sr.� D. Carolina de Vasconcellos ha lances de investiga��o historica t�o penetrantes e intuitivos que d�o muito a esperar, se os seus estudos nos baldios ingratos da archeologia literaria n�o desanimarem arrefecidos pelo desaffecto que os portuguezes manifestam pelo archaismo. Aqui se me offerece um exemplo de lucida explora��o investigadora no livro admiravel desta senhora. Na _Carta V_ de S� de Miranda a _Antonio Pereira_ (pag. 237), o poeta, referindo-se ao solar dos Pereiras, escreve: Do qual ir�o ha muitos annos Um que aqui Braga regeu, Pondo aparte os longos panos, O passo dos castelhanos � espada o defendeu. Commentando estes versos, explana a sr.� D. Carolina de Vasconcellos (pag. 806): _Julgamos que se trata do av� do grande condestavel, i. � de D. Gon�alo Pereira que regeu Braga como arcebispo no meado do seculo XIV. Quando o infante D. Pedro invadiu em 1354 as provincias de Entre Douro e Minho e Traz-os-Montes acompanhado de seus cunhados D. Ruy de Castro e D. Jo�o de Castro foi ao seu encontro o arcebispo de Braga, que o havia advertido em tempo dos sinistros projectos de D. Affonso IV. O prelado apresentou-se como medianeiro para acalmar a contenda, e desviou o colerico infante do Porto..._ Esta exposi��o tem equivoca��es. S. ex.� como logo veremos, corrige alguns enganos com muita boa critica historica; outros, por�m, que n�o emenda, pedirei licen�a para os apontar. O infante D. Pedro n�o invadiu a provincia de Entre Douro e Minho em 1354. Ignez de Castro foi assassinada em 7 de janeiro de 1355. A rebelli�o do filho contra o pae come�ou nesta ultima data e terminou em 6 de agosto do mesmo anno, pelas pazes feitas em Canavezes. Quanto aos irm�os de Ignez: ella n�o teve algum que se chamasse _Jo�o_ ou _Ruy_. Teve dous: um, seu irm�o inteiro, chamou-se D. Alvaro Pires de Castro, que foi conde de Arrayolos e condestavel; o outro, seu meio irm�o, chamou-se D. Fernando Rodrigues de Castro. Al�m destes irm�os, teve uma meia irman, D. Joanna de Castro, que, depois de viuva de D. Diogo, senhor de Biscaia, casou com D. Pedro, _o Cruel_, rei de Castella, depois da morte de Maria Padilha. Quanto ao arcebispo D. Gon�alo Pereira, considerado por todos os escritores nacionaes e estranhos que ha mais de dois seculos tratam a historia portugueza no seculo XIV, pacificador na guerra civil consecutiva � morte de Ignez de Castro, emenda a sr.� D. Carolina de Vasconcellos (pag. 882): _O arcebispo de Braga, D. Gon�alo Pereira, jaz sepultado numa capella annexa � S� de Braga, onde na inscrip��o tumular se l� ter elle morrido no anno de 1348. �, pois, impossivel que a lenda sobre a sua interven��o nas luctas de D. Pedro, o Justiceiro, e de Affonso IV (1354) seja veridica._ Conjectura depois a reflexiva escritora se o poeta alludiria � interven��o do arcebispo nas pazes entre o infante D. Affonso IV e seu pae D. Diniz, ou � concordia que o mesmo prelado restabeleceu entre Affonso XI de Castella e Affonso IV de Portugal. Estas hypotheses suggeriu-lh'as o _Nobiliario do Conde D. Pedro_, editado por A. Herculano, pag. 285. N�o p�de, todavia, prevalecer alguma dessas conjecturas da excellente commentarista; porquanto S� de Miranda, nas suas trovas, n�o trata de pazes; � de guerra, e � ponta da espada com castelhanos: Um que aqui Braga regeu Pondo aparte os longos panos O passo dos castelhanos � espada o defendeu. Daqui a pouco, espero conseguir que s. ex.� acceite o facto historico, desembara�ada de hypotheses, como elle se acha escrito nos antigos livros portuguezes. Quanto � morte de D. Gon�alo Pereira emendou s. ex.� um descuido repetido por todos os historiadores desde Manuel de Faria e Sousa e D. Rodrigo da Cunha, que tambem faz D. Gon�alo contemporaneo de D. Pedro I, j� reinante. A data da morte do arcebispo em 1348 n�o era extranha para mim, quando em 1874 escrevi: "Em 1347 foi D. Gon�alo visitar a provincia transmontana. Chegando a Villa Flor com grande sequito, travaram-se alli os seus criados com os moradores da terra, e de ambas as partes belligerantes morreram quatro homens e sahiram doze mal-feridos. Tangeram os sinos a rebate. Levantou-se a povoa��o armada. Cercaram a residencia do arcebispo, mataram-lhe seis homens, e matariam o proprio prelado, se n�o fugisse, pendurando-se de uma corda, que lhe n�o evitou cahir de costas no terreiro e contundir-se gravemente. N�o contentes os de Villa Flor com a fuga do seu arcebispo, tomaram-lhe as malas, de envolta com parte dos capell�es e seis criados. Protegido por atalhos, o contuso prelado chegou a Carrazeda de Anci�es, povoa��o importante naquelle tempo, fortificou-se no castello, fez lavrar instrumento publico, e enviou-o a D. Affonso IV. O rei, poucos dias depois, mandou a Villa Flor uma al�ada com dois algozes bem escoltados, e fez enforcar os sacrilegos que poude colher na devassa. Esta vingan�a nem por isso alliviou os incommodos do arcebispo descadeirado na qu�da. Transferido a Braga, deitou-se para nunca mais se erguer. Quatro mezes depois adormeceu no Senhor." (_Noites de insomnia_, n.� 5, pag. 91 e 92). Neste mesmo artigo, commemorando as proezas do av� do condestavel D. Nuno Alvares, escrevi: _F�ra elle ainda quem acaudilh�ra a hoste de portuguezes, quando uma invas�o de hespanhoes, em desapoderada fuga, deixou o sangue de tresentas vidas nas lan�as dos alabardeiros do arcebispo._ (_Ib._ pag. 92). Aqui tem s. ex.� a fa�anha que o S� de Miranda celebrou na sua carta a um dos descendentes do prelado guerreiro; e para que a illustre escritora a conhe�a de melhor auctoridade que a minha, aqui lhe dou o traslado de chronista antigo: "Por estes annos, entraram por ordem de el-rei D. Affonso onzeno de Castella pelo reino de Portugal, com m�o armada, D. Fernando Rodrigues de Castro e D. Jo�o de Castro seu irm�o, capit�es do reino de Galliza, roubando, desbaratando quanto achavam, com muita gente de armas, at� chegarem � cidade do Porto, e fazendo todo estrago que podiam sem acharem resistencia, estando juntos nella o bispo D. Vasco, e D. Gon�alo Pereira, arcebispo de Braga, que antes f�ra De�o do Porto, e o Mestre de Christo D. Frei Estev�o Gon�alves refizeram 1:400 homens entre infantes e cavallos, com os quaes os contrarios n�o quizeram cometer peleja; e voltando as costas se foram recolhendo com a preza que levavam; mas seguindo-lhe os portuguezes o alcance lhe fizeram largar tudo, e custar a retirada mais do que cuidavam, at� que com morte de D. Jo�o de Castro e outros muitos soldados se foram recolhendo a Galliza: foi isto na Era de 1374, anno de Christo 1336..." (D. RODRIGO DA CUNHA, _Cathalogo dos B. do Porto_, pag. 96, edi�. de 1742). N�o nos restam, pois, incertezas quanto ao feito de armas encomiado por S� de Miranda; e de todo em todo, � vista do anno em que falleceu o arcebispo, irrefutavelmente fixado pela sr.� D. Carolina Micha�lis, � excluido aquelle prelado da interven��o que os historiadores e at� modernos dramaturgos lhe d�o nos successos posteriores � morte de Ignez de Castro. Mas, donde procede essa confus�o dos historiadores? Quem � o sacerdote Pereira que defendeu o Porto da invas�o do infante D. Pedro em 1355? Vamos conhecel-o. Assim como leu a pag. 285 do _Nobiliario do Conde D. Pedro_, se a sr.� D. Carolina de Vasconcellos lesse a pag. 286, achava a decifra��o do enigma. Ahi nos conta o continuador do conde de Barcellos (digo _continuador_, porque D. Pedro fallecido em 1354, n�o podia referir factos occorridos em 1355) que o defensor da _Villa do Porto_, n�o fortificada, foi D. Alvaro Gon�alves Pereira, filho do arcebispo D. Gon�alo. N�o foi portanto, o pai; foi seu filho, o prior do Crato, pai do condestavel D. Nuno. E por que o texto do _Nobiliario_ tem uma concis�o engra�ada e pittoresca n�o ser� desagradavel ao leitor conhecel-o. Vai textualmente: _Este Prior D. Alvaro foi o que pos os pend�es por muro, estando na villa do Porto para a guardar por mandado del-rei D. Affonso IV, porque o Infante D. Pedro andava al�ado del, queimando e destruindo muitos logares do Reino, fazendo mal e danando a Diogo Lopes Pacheco, a D. Gil Vasques de Rezende e a Pero Coelho e a todos os que el culpava que foram conselheiros na morte da infanta D. Ignez de Castro, que citei seu padre matou, e a villa do Porto n�o era murada em aquelle tempo, sen�o em poucos logares de m�o muro, e o Prior D. Alvaro fez muros de pend�es das n�os que ahi estavam, chantando as hastes delles pelo campo a redor da villa, e percebendo_ (industriando) _suas gentes como defendessem os pendoens. O Infante D. Pedro esteve ahi em cerca da villa 16 dias com grande poder de fidalgos portuguezes e de Galiza. Estes fidalgos desejavam muito cobrar a villa por a riqueza della. Isto durou at� que chegou El-Rei D. Affonso IV, e o Prior D. Alvaro entregou-lhe sua villa, e alguns disseram que o Infante se soffreu de combater a villa por honra do Prior D. Alvaro. A verdade assim pareceu, que o Prior D. Alvaro, como entregou a villa a seu senhor El-Rei come�ou de andar em preitezias_ (negocia��es) _entre El-Rei seu padre e aveo-os_ (aven�ou-os) _e fez-lhe dar a sua quantia de maravedis que seu padre lhe tinha al�ada_ (suspensa) _e fez-lhe dar o condado ao Infante D. Jo�o seu filho, e outras muitas merc�s... etc._ Ahi est� o facto historico. A correc��o reconstituinte da sr.� D. Carolina de Vasconcellos e os esclarecimentos que ouso offerecer-lhe ser�o bastantes para expungir das historias patrias que por ahi correm a interven��o lendaria do arcebispo de Braga na guerra civil de 1355? Talvez n�o. Ha erros enkistados que nenhum bisturi de critica desarreiga. * * * * * Recopilando as impress�es que recebi do livro da illustrada alleman: a biographia de S� de Miranda, expurgada de inveterados erros, est� primorosamente redigida. A minudenciosa visita de s. ex.� ao Castro e � quinta da Tapada revellam o amor com que a auctora estava possuida do seu assumpto. As reflex�es philologicas rescendem um sabor germanico de que em Portugal decerto n�o achou exemplos. A linguagem, a despeito de quasi imperceptiveis incorrec��es, parece ter sido estudada nos melhores mestres desde os primeiros alvores da sua educa��o literaria. Desata problemas invencilhados de genealogias; restitue a uns poetas obras attribuidas a outros; gradua o quilate dos diamantes que lapida sob o esmeril da critica mais esclarecida. Cotteja factos contemporaneos dos poemas, para lhes averiguar a ideia ou a allegoria. Prodigiosa paciencia e rara voca��o por tanta maneira divergente da nossa indole superficial em averigua��es desta natureza! Devemos, portanto, � insigne escritora a primeira edi��o digna do grande e quasi olvidado poeta. Devemos-lhe al�m disso ter feito mais conhecido e apreciado do que era em Allemanha o grande luminar donde promanaram discipulos como Antonio Ferreira, Diogo Bernardes, Andrade Caminha, e a pleiade de seiscentistas que formam com Luiz de Cam�es a idade aurea da literatura portugueza. Com o livro estimavel da illustrada escritora ser� mais lido em Portugal S� de Miranda? Envergonho-me de confessar que n�o. S. ex.� achou-me exaggerado quando eu disse, que na minha terra se conhecia o poeta _S�_ pelas charadas. "Sou poeta portuguez-I. Poeta portuguez com uma syllaba? � por for�a S�." Insisto em teimar, minha senhora, que, quando a transcendente idiotia das charadas cahir no abysmo do ridiculo, apagar-se-ha de todo o nome do poeta. E, quando isso succeder, folgar� grandemente a alma rancorosa de Christov�o do Valle, ex-alcaide de Lindoso, que est�, pelo menos, no purgatorio expiando a persegui��o que fez ao innocente gallego, vingado pela satyra do seu immortal patr�o uzurariamente. S. Miguel de Seide, 1887. VISCONDE DE CORREIA BOTELHO. BIBLIOGRAPHIA CAMILLIANA (CARTA AO AUCTOR) _Meu prezado Henrique Marques_: Revia eu as ultimas provas de um modesto livrinho de homenagem, por mim offerecido � insigne escriptora e minha excellente amiga D. Carolina Micha�lis de Vasconcellos, quando me chegou �s m�os o precioso exemplar do monumento, que a perseveran�a de V. soube alevantar � memoria de Camillo. Compunha-se o meu preito, � alta intelligencia e ao nobre caracter da senhora D. Carolina Micha�lis, da reuni�o dos artigos, que em Portugal saudaram a portentosa edi��o das _Obras de S� de Miranda_, na ordem chronologica do seu apparecimento: s�o dois apenas, que mais n�o conhe�o, mas com serem dois, teem a impol-os respectivamente a auctoridade de Anthero de Quental e do Visconde de Correia Botelho, no unico logar em que Camillo rubricou, com o seu nome transformado, um escrito literario. � ver o folhetim do n.� 91 do _Commercio do Porto_ de 13 de abril de 1887. Ali, Camillo presta voto de homenagem ao saber e � honestidade, com que S� de Miranda foi evocado, em um espirito critico a que andavamos deshabituados, e a que por egual fizeram justi�a, nas cita��es dos seus livros, Theophilo Braga, Adolpho Coelho, Oliveira Martins, etc. Neste lan�o, e uma vez em meu poder a _Bibliographia Camilliana_, rebusquei a individua��o do estudo de Camillo, que bem interessante �, por signal. O n.� 573 do seu livro n�o o menciona, nem indica, donde me pareceu que lhe � desconhecido na f�rma primeira de folhetim; que, de resto, V. l� o aponta ao memorar dos trechos componentes do _Obulo �s crean�as_. Junte-o, pois, agora, em f�rma autonoma, � sua esplendida Camilliana--por certo a mais notavel que ainda se reuniu em Portugal e no Brazil--e consinta que neste lugar, que j� agora tenho pelo mais opportuno, e numa cavaqueira amiga, o mais obscuro admirador da sua monographia, carreie duas ou tres annota��es, que sirvam de aperfei�oamento � tra�a de um edificio, nobremente cimentado por trabalho improbo, como � o seu. Acaso vale a pena de consignal-as neste opusculo, � sombra do nome illustre da doutissima escritora alleman, que tirou carta de naturalisa��o entre os mais consideraveis publicistas do nosso paiz, e sob a �gide dos dois grandes homens que firmam as paginas, precedentes a estas linhas corridas, de palestra amiga. � de mais rapida mon��o ir inscrevendo as notas em rela��o a numeros, e na ordem de sec��es. Para aqui as traslado, pois, redigindo os hierogliphicos, com que marginei o seu presente de nababo, numas horas rapidas de exame: N.� 10.--_O Clero e o sr. Alexandre Herculano._--D�ste curioso folheto extrahiram-se exemplares em papel azul, meio cart�o. Vi ha annos um, na loja do sr. Jo�o V. da Silva Coelho, � rua Augusta. Vem a p�llo referir que Latino Coelho inseriu anonimamente, num dos primeiros volumes da Revista Popular, uns valiosos tra�os de aprecia��o d�ste opusculo. N.� 95.--_Divindade de Jesus._ Este livro reune artigos publicados muitos annos antes, e teve como fim immediato facilitar ao auctor a acquisi��o de um exemplar rarissimo dos _Amusements p�riodiques_ do Cavalleiro de Oliveyra, que Jos� Gomes Monteiro possuia e que Camillo namorava desde muito. Esse exemplar ajudou � elabora��o do _Judeu_, da _Caveira da Martyr_, das _Noites de Insomnia_, e, mais tarde, de algumas sec��es da _Historia de Portugal_ de Oliveira Martins. Possuo-o eu actualmente, tendo successivamente pertencido a Augusto Soromenho, Jos� Gomes, Camillo e Annibal Fernandes Thomaz. Numa das guardas do 1.� vol., lan�ou Camillo a seguinte cota: "Dei por este livro o mss. da Divindade de Jesus, reputado em 14 libras, a Jos� Gomes Monteiro". N.� 146.--_O Condemnado._--�, effectivamente, uma contrafac��o. Basta que o meu presado Henrique Marques se d� ao incommodo de reflectir que em 1871 a casa Mor� se achava ainda num periodo de relativa actividade e que nada tinha que ver com a loja de Jo�o Coutinho. Pelo mesmo motivo, applico esta observa��o ao numero immediato, (147). N.� 174.--_A Caveira da Martyr._--Da queima do 1.� volume--feita por motivos de consciencia,--salvaram-se uns quarenta exemplares, por se acharem deslocados nos depositos do editor. S�o esses os que teem sido vendidos. N�o ha, nem houve reimpress�o daquelle tomo. O editor recusou mesmo vender a propriedade da obra, quando traspassou a Pedro Correia a de todas as demais livros de Camillo, que havia adquirido. A nota de H. Marques � absolutamente injusta. Conhe�o o sr. Tavares Cardoso, o bastante para tomar a responsabilidade desta affirmativa, que o seu caracter me garante e abona. N.� 176.--_Curso de litteratura._--Numa das cartas publicadas no opusculo adiante descrito, sob n.� 289, acha-se, a breve trecho, uma curiosa e incisiva aprecia��o da parte d�ste trabalho, redigida por Andrade Ferreira. N.� 221.--_Bohemia do Espirito._--O estudo sobre Luis de Cam�es tem, pelo menos, uma passagem, que se n�o l� nas impress�es anteriores, e que se refere ao S� de Miranda da sr.� D. Carolina Micha�lis. N.� 237.--_Delictos da mocidade._--Al�m da edi��o especial que ficou apontada, ha uma outra, em papel Jap�o tambem, mas sem as letras capitaes a c�res. Possue um exemplar o meu amigo dr. A. A. de Carvalho Monteiro. N.� 263.--_Am�r de perdi��o._--Fui eu quem tra�ou o plano da edi��o. Pertence-me a reda��o do prospecto e a escolha dos individuos que tiveram de escrever a parte critica. Camillo tinha em grande atten��o o meu enthusiasmo por este admiravel livro, a que todavia antepunha o _Romance de um homem rico_ e o _Retrato de Ricardina_. Dois ou tres dias depois de uma das muitas conversas que tivemos, sobre o th�ma do _Am�r de Perdi��o_, vinha-me da residencia amiga de S. Miguel de Seide um exemplar da extraordinaria novella, com o seguinte _envoi_ do notavel romancista:--"_Para fazer chorar de novo Joaquim de Araujo--essa suprema express�o das almas boas, chorar._ C. C. Branco". Henrique Marques cita um exemplar especial da 1.� edi��o. P�de addicionar-lhe o que deve existir na Biblioteca particular de El-rei, o que foi presenteado a Fontes e o que recentemente adquiriu o meu amigo Joaquim Gomes de Macedo. Esta tiragem especial foi de 12 exemplares, com destino a brindes, que por ent�o se effectuaram a individuos e sociedades de Portugal e do Brazil, sob indicativa de Camillo e de Jos� Gomes Monteiro. N.� 289.--_Cartas de Camillo Castello Branco a Joaquim de Araujo._ Entre os meus papeis, encontro mais a seguinte missiva de Camillo, bastante curiosa para a historia do n.� 189: _Meu amigo:_ A tarefa de escrever o _Perfil do Marquez de P._ em 20 dias deixou-me o cerebro em lama. Vou ver se os ares de Braga e a ausencia de livros me restauram. Anna Placido vae ler os seus versos. Conhece os que appareceram dispersos nas folhas. Diz ella que a linguagem dos poetas lhe est� sendo hoje um dialecto oriental. Accrescenta que est� muito velha, muito materialisada pela vida rural e pelas enormes tristezas da sua vida. Entretanto, as suas poesias alumiam escuridoens. Logo que volte de Braga participo-lh'o. De V. Ex.� Admirador e amigo S. C. 2 de junho de 1882. _C. Castello Branco._ Nunca vi exemplares em _grand papier_ do _Perfil do Marquez de Pombal_, mas o editor Manuel Malheiro asseverou-me que fizera imprimir uns tres ou quatro. S� a sr.� viscondessa de Correia Botelho, minha muito estimada e querida amiga, poder� desenvincilhar hoje este pequeno problema bibliographico. N.� 291--_Genio do Christianismo_--Embora o frontispicio das quatro edi��es publicadas atribua esta vers�o a Camillo Castello Branco, o facto � que a interferencia do grande escritor s� tem rela��o com os primeiros capitulos; os demais foram vertidos por Augusto Soromenho. Para compensar o editor Coutinho, Camillo derivou o cumprimento do seu contracto para um romance original--_Como Deus castiga!_ cuja ac��o se desenrolava pelos tumultos, a que no Porto deu origem a crea��o da Companhia das Vinhas do Alto Douro. Existem escritos cinco capitulos, um dos quaes se acha menos correctamente mencionado, sob n.� 607 da _Bibliographia_. A elabora��o d�ste romance data de 1861; abandonando o assumpto, Camillo saldou noutro volume as suas contas com o editor. _Como Deus castiga!_ deve ser citado entre os n.os 49 e 55, no grupo de obras originaes. N.� 300--_A Freira no subterraneo._--Nenhuma das edi��es traz nome de autor; ouvi que Camillo redigira elle proprio o romance, aproveitando alguns dados de promenorisadas noticias, alludentes ao sequestro de uma emparedada em um convento russo. N.os 333 e 373--_Catalogos etc._--A serem verdadeiras, como s�o, para mim, as indica��es de Henrique Marques, o logar d�stes numeros deve marcar-se entre a serie das obras originaes do autor. N.� 470--_Obulo �s crean�as_--As duas prociss�es, dos _Mortos e dos moribundos_, correram mundo em jornaes diversos, que n�o vejo designados no 5.� grupo da _Bibliographia_. A proposito, escreveu Camillo a Bulh�o Pato uma eloquente carta, que este distinctissimo poeta engastou num commovido folhetim do _Diario Popular_, referente � loucura de Freitas e Oliveira. Camillo convidava Bulh�o Pato a enfileirar tambem processionalmente os seus mortos queridos. Com um talento extraordinario de vis�o das idades transcorridas, com o inestimavel estilo que Oliveira Martins considerava impressionavelmente consolador e unico, nessas evoca��es, j�, antes do convite de Camillo, Bulh�o Pato fundira o inimitavel tomo _Sob os Ciprestes_. Pelo corrente deste livro, as suas recentes _Memorias_ pertencem � cathegoria dos trabalhos de primeira ordem, que, entre n�s, se teem produzido, na segunda metade deste seculo. Admiro sem restri��es o autor de t�o altos primores, como os que se revelam nas nobres paginas consagradas a Anthero de Quental. Entre os livros que conteem escritos de Camillo, por certo que ainda falta--e at� quando?--accentuar bastantes, embora V. apresente uma soberba lista; lembra-me indicar-lhe a _A Propriedade intellectual_ do meu querido amigo e eminente publicista Visconde de Faria Maya, impresso num limitadissimo numero de exemplares, em Ponta Delgada; os _Homens e letras_ de Candido de Figueiredo; _A Sciencia e probidade_ de Francisco Adolpho Coelho; o _Fausto de Castilho julgado pelo elogio mutuo_ de Joaquim de Vasconcellos; e um dos _Catalogos_ do sr. Lima Calheiros: sendo possivel que neste capitulo se possam inscrever os trabalhos philologicos de Manuel de Mello e os opusculos faustianos de Gra�a Barreto. Escrevendo estas linhas longe dos meus livros, n�o posso jurar nas ultimas indica��es, que registro, apenas, a beneficio de inventario. Quanto � sec��o de jornaes e revistas, ha que ter em conta os numeros do _Primeiro de Janeiro_, em que Camillo publicou a _Necrologia do commendador Vieira de Castro_, as cartas a Germano de Meyrelles por motivo do processo do grande tribuno d�ste nome, e a Jo�o de Oliveira Ramos, em occasi�es varias; o _Circulo Camoniano_; o _Diario da Tarde_, onde a collabora��o de Camillo foi extensa, e onde se acha reproduzida a materia do _Bico de gaz_ (n.� 504), sem a menor obediencia �s sete chaves com que, annos depois (!), na Bibliotheca Municipal do Porto intelligentemente lhe vedaram, a V., o direito de copiar o exemplar, que l� se guarda; o _Diario Nacional_ que revelou em primeira m�o alguns dos promenores historicos de _D. Luis de Portugal_. Muitos outros haver� decerto. E por se fallar em jornaes, lembro-lhe a utilidade de nos indices finaes do seu trabalho, mencionar � parte os periodicos, de qualquer indole, que tiveram Camillo como redactor ou editor exclusivo, e bem assim os volumes que devem a sua impress�o ou reedi��o ao grande escritor, embora com o concurso de livreiros. Dada a lucidissima organisa��o dos seus numeros de recorrencia, � facil esmiu�ar toda a casta de indices. Um dos mais curiosos seria o de todas as pessoas citadas na _Bibliographia Camilliana_. Uma observa��o ainda: diz respeito a tiragens especiaes. Ha, que eu saiba, dos seguintes numeros: 368 (poucos exemplares em papel Whatman); 401 (oitenta a cem exemplares em velino e linho nacional); 409 (1 exemplar em China, 2 em velino, e 38 em linho) 458 (6 exemplares em Whatman); 462 (diversos exemplares em linho); 488 (8 exemplares em China); 494 (6 exemplares em papel cart�o amarello.) Das _Poesias e prosas de Soropita_ fez-se tambem uma impress�o � parte, de pouquissimos exemplares, menos talvez ainda do que os que o editor Chardron mandou tirar das _Escava��es bibliographicas_, folhetim do _Diario Mercantil_, em que Theophilo Braga analisou severamente o apparecimerito daquelle volume. Clareia a manhan, e tempo � de ensaiar um termo a esta carta, do tamanho classico das legoas da Povoa. Infelizmente, n�o lhe posso dar mais alta prova da minha considera��o pelo seu livro, digno, em tudo, do grande escritor a quem � consagrado, e quasi pagamento de uma divida nacional. Por mim, registro-o como um dos mais valiosos subsidios para a nossa moderna historia literaria, e as pequenas minucias que lhe addito testemunham exhuberantemente ao meu amigo o applauso mais sincero e o parabem mais enthusiastico. Do seu editor, e meu excellente amigo A. M. Pereira, t�o s�mente lhe digo que, na publica��o da _Bibliographia Camilliana_, praticou uma das mais bellas ac��es da sua brilhantissima carreira. S. c. Lisboa, 25 de agosto, 94. Seu adm.or e amigo obg.mo _Joaquim de Araujo._ Pre�o 200 r�is End of the Project Gutenberg EBook of S� de Miranda, by Antero Tarqu�nio de Quental and Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco and Joaquim de Araujo *** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK S� DE MIRANDA *** ***** This file should be named 25845-8.txt or 25845-8.zip ***** This and all associated files of various formats will be found in: https://www.gutenberg.org/2/5/8/4/25845/ Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images of public domain material from Google Book Search) Updated editions will replace the previous one--the old editions will be renamed. Creating the works from public domain print editions means that no one owns a United States copyright in these works, so the Foundation (and you!) can copy and distribute it in the United States without permission and without paying copyright royalties. Special rules, set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you do not charge anything for copies of this eBook, complying with the rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose such as creation of derivative works, reports, performances and research. They may be modified and printed and given away--you may do practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is subject to the trademark license, especially commercial redistribution. *** START: FULL LICENSE *** THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free distribution of electronic works, by using or distributing this work (or any other work associated in any way with the phrase "Project Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project Gutenberg-tm License (available with this file or online at https://gutenberg.org/license). Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm electronic works 1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to and accept all the terms of this license and intellectual property (trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession. If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8. 1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be used on or associated in any way with an electronic work by people who agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works even without complying with the full terms of this agreement. See paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic works. See paragraph 1.E below. 1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation" or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the collection are in the public domain in the United States. If an individual work is in the public domain in the United States and you are located in the United States, we do not claim a right to prevent you from copying, distributing, performing, displaying or creating derivative works based on the work as long as all references to Project Gutenberg are removed. Of course, we hope that you will support the Project Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with the work. You can easily comply with the terms of this agreement by keeping this work in the same format with its attached full Project Gutenberg-tm License when you share it without charge with others. 1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in a constant state of change. If you are outside the United States, check the laws of your country in addition to the terms of this agreement before downloading, copying, displaying, performing, distributing or creating derivative works based on this work or any other Project Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning the copyright status of any work in any country outside the United States. 1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg: 1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed, copied or distributed: This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org 1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived from the public domain (does not contain a notice indicating that it is posted with permission of the copyright holder), the work can be copied and distributed to anyone in the United States without paying any fees or charges. If you are redistributing or providing access to a work with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or 1.E.9. 1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted with the permission of the copyright holder, your use and distribution must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the permission of the copyright holder found at the beginning of this work. 1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm License terms from this work, or any files containing a part of this work or any other work associated with Project Gutenberg-tm. 1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this electronic work, or any part of this electronic work, without prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with active links or immediate access to the full terms of the Project Gutenberg-tm License. 1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary, compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any word processing or hypertext form. However, if you provide access to or distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than "Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org), you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm License as specified in paragraph 1.E.1. 1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying, performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9. 1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided that - You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method you already use to calculate your applicable taxes. The fee is owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he has agreed to donate royalties under this paragraph to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments must be paid within 60 days following each date on which you prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax returns. Royalty payments should be clearly marked as such and sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the address specified in Section 4, "Information about donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation." - You provide a full refund of any money paid by a user who notifies you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm License. You must require such a user to return or destroy all copies of the works possessed in a physical medium and discontinue all use of and all access to other copies of Project Gutenberg-tm works. - You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the electronic work is discovered and reported to you within 90 days of receipt of the work. - You comply with all other terms of this agreement for free distribution of Project Gutenberg-tm works. 1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm electronic work or group of works on different terms than are set forth in this agreement, you must obtain permission in writing from both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the Foundation as set forth in Section 3 below. 1.F. 1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread public domain works in creating the Project Gutenberg-tm collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic works, and the medium on which they may be stored, may contain "Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by your equipment. 1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all liability to you for damages, costs and expenses, including legal fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE PROVIDED IN PARAGRAPH F3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH DAMAGE. 1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a written explanation to the person you received the work from. If you received the work on a physical medium, you must return the medium with your written explanation. The person or entity that provided you with the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a refund. If you received the work electronically, the person or entity providing it to you may choose to give you a second opportunity to receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy is also defective, you may demand a refund in writing without further opportunities to fix the problem. 1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE. 1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages. If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any provision of this agreement shall not void the remaining provisions. 1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance with this agreement, and any volunteers associated with the production, promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, that arise directly or indirectly from any of the following which you do or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of electronic works in formats readable by the widest variety of computers including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from people in all walks of life. Volunteers and financial support to provide volunteers with the assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will remain freely available for generations to come. In 2001, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 and the Foundation web page at https://www.pglaf.org. Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit 501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent permitted by U.S. federal laws and your state's laws. The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered throughout numerous locations. Its business office is located at 809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact information can be found at the Foundation's web site and official page at https://pglaf.org For additional contact information: Dr. Gregory B. Newby Chief Executive and Director gbnewby@pglaf.org Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide spread public support and donations to carry out its mission of increasing the number of public domain and licensed works that can be freely distributed in machine readable form accessible by the widest array of equipment including outdated equipment. Many small donations ($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt status with the IRS. The Foundation is committed to complying with the laws regulating charities and charitable donations in all 50 states of the United States. Compliance requirements are not uniform and it takes a considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up with these requirements. We do not solicit donations in locations where we have not received written confirmation of compliance. To SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any particular state visit https://pglaf.org While we cannot and do not solicit contributions from states where we have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition against accepting unsolicited donations from donors in such states who approach us with offers to donate. International donations are gratefully accepted, but we cannot make any statements concerning tax treatment of donations received from outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation methods and addresses. Donations are accepted in a number of other ways including including checks, online payments and credit card donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic works. Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm concept of a library of electronic works that could be freely shared with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily keep eBooks in compliance with any particular paper edition. Most people start at our Web site which has the main PG search facility: https://www.gutenberg.org This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, including how to make donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.